Kleber Mendonça Filho acredita que O Som ao Redor foi escolhido por ser universal

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Kleber Mendonça Filho ficou surpreso ao saber sobre a escolha do seu filme
Foto: Guga Matos/JC Imagem

Antes de começar a gravar O Som ao Redor, o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho poderia esperar que apenas os pernambucanos pudessem ter interesse pelo filme. No entanto, mais de um ano depois, os conflitos e medos mostrados em telas de cinemas pelo mundo mostraram que esses são sentimentos presentes em todos. Agora, o longa foi escolhido para representar o Brasil a uma vaga no Oscar, anúncio feito nesta sexta-feira (20).

O filme foi escolhido por uma comissão do Ministério da Cultura depois de vencer uma pré-seleção com outros longas nacionais: Colegas, Faroeste Caboclo, Gonzaga – De Pai Para Filho, a animação Uma História de Amor e Fúria e o drama Meu Pé de Laranja Lima. O indicado do Brasil ano passado foi O Palhaço, mas não chegou a ser escolhido pela Academia.

Até esta tarde, Kleber Mendonça Filho nem sabia onde o seu produto havia chegado. Soube após uma ligação do UOL, parceiro do NE10, para entrevista, enquanto estava em casa, na Rua José Moreira Leal, em Setúbal, Zona Sul do Recife, onde o filme foi gravado. “A repórter estava mais bem informada que eu”, afirmou. “Fiquei muito surpreso com esse filme. Ainda estou tentando dar um sentido para tudo isso.” O diretor que viu na rua onde mora há cerca de 25 anos o ponto de partida para um grande sucesso do cinema brasileiro definiu com uma palavra a indicação: fantástico.

Não é exagero dizer que O Som ao Redor foi o filme brasileiro com maior repercussão nos últimos anos – o próprio Kleber Mendonça Filho, que atuou como crítico de cinema do Jornal do Commercio durante mais de dez anos, pensa isso. Esse foi o longa produzido no Brasil que mais ganhou prêmios em 2012. Fez sucesso em festivais no Brasil e no mundo – venceu Roterdã, Festival do Rio, Brasília e Mostra de São Paulo, além do 3º Prêmio Cinema Tropical, em Nova York. Foi também apontado pelo The New York Times como um dos dez melhores filmes do mundo no ano passado.

Para o seu criador, O Som ao Redor provocou tanta repercussão principalmente por permitir uma identificação do público. “Achava que era muito brasileiro – e até muito local. Mas me surpreendeu ao ser selecionado para Roterdã. Como observador, digo que isso acontece por causa da natureza universal do filme. São pessoas que arranjam maneiras de morar numa rua com medo da violência. Tem também o peso da história”, afirmou. Para o pernambucano, mesmo sendo de ficção, o filme gera um sentimento de verdade.

O cineasta comemora o fato de não ter precisado pagar pela publicidade do seu filme. “O Som ao Redor andou sozinho. É ruim empurrar o filme. Prefiro seguir o caminho que ele traçar, vê-lo andando sozinho”, diz. Com a escolha do Ministério da Cultura, ele acredita que a curiosidade do público vai crescer. O pernambucano se envolveu em uma polêmica nas redes sociais com a Globo Filmes, quando disse que a empresa adestra o público.

Kleber Mendonça Filho, diretor de curtas e longas que partem de experiências próprias, afirma se identificar com o segurança Clodoaldo, com o patriarca Francisco, com a Bia que usa a máquina de lavar roupas para se masturbar. “Sou, de cada um deles, um pouquinho”, disse. Devido ao trabalho que esse filho – forma como pode chamar O Som ao Redor -, o cineasta só pode ter planos de novos filmes para o próximo ano.

fonte:ne10online