Eduardo Campos comunica a Dilma saída do PSB do governo

 

  • “Eu lamento, mas compreendo”, diz a presidente, que deixou as portas do Planalto abertas para o PSB
  • Líder do PSB na Câmara provoca petistas e pede que devolvam os cargos que ocupam nos seis governos estaduais do partido

 

 

A Executiva Nacional do PSB entregou nesta quarta-feira os ministérios da Integração Nacional e dos Portos, além da presidência da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). O único voto contrário foi do governador Cid Gomes (CE). O presidente do partido e pré-candidato à Presidência da República, governador Eduardo Campos (PE), se reuniu por cerca de 40 minutos com a presidente Dilma Rousseff na tarde desta quarta-feira para comunicar a decisão. Campos deixou o Palácio do Planalto sem dar entrevistas.

No encontro, a presidente não passou recibo: disse que as portas do governo estarão sempre abertas para o pré-candidato do PSB a presidente em 2014.

— Eu lamento, mas compreendo a decisão do PSB. As portas do governo e do Planalto estarão sempre abertas para nosso aliado de longa data — disse Dilma a Campos no encontro que não foi aberto para fotografias.

Antes do encontro de Campos com a presidente Dilma, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, minimizou o desembarque do PSB do governo. Ideli destacou que, na votação dos vetos presidenciais, o PSB apoiou o governo.

— Eu gostaria de fazer o registro que ontem estive com a bancada do PSB, falei com o governador e com o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF). Depois da reunião deles, nós contamos com os votos do PSB tanto na Câmara como no Senado para a manutenção dos vetos — disse a ministra.

Numa carta de duas páginas, publicada no site do PSB, Eduardo explica a Dilma as razões do rompimento de uma aliança de dez anos e meio com o PT.

Após a reunião da Executiva, mas antes de ser recebido por Dilma, o presidente do PSB afirmou que o desejo do partido, hoje, é ter candidato a presidente da República, mas que essa decisão só será sacramentada no ano que vem.

— O PSB fez um longo debate e decidiu, vou comunicar à presidente Dilma, que estamos deixando o governo, entregando as funções que ocupamos. Deixamos assim a presidente Dilma à vontade, e estamos ficando à vontade, para discutir os caminhos para o Brasil — disse Campos.

Ele afirmou que o partido continuará apoiando o governo no Congresso nas questões que considerar pertinentes:

— Não vamos entrar na oposição. Vamos dar apoio no que acharmos que for correto, inclusive o debate sobre termos ou não candidatura própria.

O ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional) afirmou que vai pedir uma audiência à presidente logo após o encontro dela com Eduardo Campos. A expectativa é que Fernando Bezerra entregue sua carta de demissão ainda hoje.

— Eu vou na sequencia pedir uma audiência para agradecer a possibilidade de ter servido o país e dizer que estou atendendo a uma recomendação do partido — disse.

Único dos presentes a votar contra a ruptura imediata, o governador do Ceará, Cid Gomes, não quis fazer comentários sobre a decisão do partido. Segundo alguns dos presentes, Gomes reclamou do momento em que a decisão está sendo tomada, mas não de seu conteúdo.

— Foi aprovado com meu voto contra. Não acho oportuna (a decisão), mas não vou comentar — afirmou Gomes, confirmando que o ministro da Secretaria dos Portos, Leonidas Cristino, que está no cargo por sua indicação, também deixará o governo.

O encontro com Dilma estava marcado para as 14h30, mas atrasou por causa do encontro da Executiva Nacional do PSB. O órgão, que reúne as principais lideranças da legenda, formalizou a decisão após várias horas de reunião. Segundo o líder do partido na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), a medida foi tomada como reação às críticas que a legenda vinha sofrendo por parte de governistas que acusavam o partido de estar dentro do governo mas fazendo críticas permanentes.

— Isso já chegou à beira da humilhação. Não queremos causar constrangimento à Dilma, mas não vamos ser constrangidos por ninguém. Não vamos ter que ouvir baboseiras humilhantes de gente do PT e do governo. Queremos ficar livres para tomar a decisão de ter candidato a presidente da República. Agora o apoio ao governo vai depender dos temas e das pautas. Não vamos virar oposição radical, mas quem não está no governo não é da base. Somos um partido independente — explicou.

Beto Albuquerque provocou os petistas, defendendo que eles também entreguem os cargos que possuem nos seis governos de estado comandados pelos socialistas:

— O PT que nos cobrou aqui (no plano nacional), é o que ocupa cargos em nossos governos mesmo tendo disputado contra nós, então eles deveriam ser coerentes — disse Albuquerque.

Na reunião da Executiva, o ministro Fernando Bezerra Coelho disse que a gota d’água foi notícia publicada sexta-feira passada de que Dilma daria seu cargo para o PMDB. Após conversa “definitiva” com Campos, Bezerra Coelho telefonou para o ministro Aloizio Mercadante (Educação), principal articulador político de Dilma:

— Está constrangedor, está na hora de termos uma conversa política — disse Bezerra Coelho a Mercadante.

Segundo o ministro da Integração Nacional, Mercadante disse que ia consultar a presidente Dilma e telefonaria de volta, o que nunca aconteceu.

Ele falou no início da tarde na reunião da Executiva, logo após os quatro governadores presentes: Eduardo Campos, Cid Gomes (CE), Wilson Martins (PI) e Ricardo Coutinho (PB). O outro integrante da Esplanada por indicação do partido, o ministro da Secretaria de Portos, Leonidas Cristino, está a trabalho no Panamá e não participa do encontro.

Cid Gomes diz que decisão é precipitada

Aliado de Dilma e patrono da nomeação de Leonidas, o governador Cid Gomes afirmou, de acordo com pessoas presentes, que acha precipitado desembarcar do governo neste momento e alegou que o partido está sendo pautado pela imprensa.

— Assino embaixo, mas acho que não é a hora.

Na reunião, a portas fechadas, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) foi na mesma linha, defendendo que o partido entregue os cargos apenas em março. Já os líderes do PSB na Câmara, Beto Albuquerque, e no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), respaldaram a posição de Campos, de sair do governo agora. Na avaliação de Albuquerque, o tempo de diálogo com o PT já passou:

— Essa oportunidade de conversar já passou há muito tempo. E está faltando conversa em Brasília. Conosco o governo e o PT não precisarão mais discutir cargos a partir de hoje. O divórcio pode ser amigável ou não, mas é divórcio – justificou o líder, ressaltando a lealdade histórica que o partido teve com o PT: — O PT tem todo o direito de pensar o que quiser, mas o PSB esteve com Lula em suas derrotas e não mudou de lado.

Entregar os cargos do governo é um primeiro passo para consolidar a pré-candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República. Em deferência, Campos telefonou, na noite de ontem, para o ex-presidente Lula, comunicando-o da decisão. Essa posição, no entanto, não é unânime no PSB.

— A minha proposta é conciliar. Fazemos parte desse governo há muitos anos e somos responsáveis também por suas conquistas. A essa altura dos acontecimentos, abandonar o barco não é aconselhável. Nossos eleitores não querem isso — disse o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), ao chegar para a reunião da Executiva.

Valadares reclamou ontem com integrantes do partido do fato de a decisão já estar tomada e de a Executiva ter sido convocada apenas para confirmá-la.

Secretário do PT diz que partido quer PSB como aliado em 2014

Após o anúncio de Campos de que o PSB deixa o governo Dilma, o secretário-geral do PT, Paulo Teixeira, divulgou nota intitulada “Queremos o PSB ao nosso lado em 2014”.

“Nosso distanciamento não será bom para o governo, já que se trata de um aliado com forte identidade programática. Nem para o PSB, já que o caminho que se desenha sem o PT é o da aproximação com as forças que sempre fizeram oposição aos avanços no Brasil”, disse Teixeira.

No texto, Teixeira afirma que seria hora de “colocar água nesta fervura para diminuir o calor deste debate”. “As relações entre PT e PSB não podem ser resolvidas com tamanho grau de tensão”, afirmou.

O petista pediu diálogo entre os partidos para evitar um racha e construir uma agenda que resulte em um caminho comum a partir de agora, “ou, caso inevitável, possamos pactuar uma saída que nos dê a condição de aliados no próximo governo Dilma e nas lutas sociais”, afirmou.