“Tenho alguma coisa com a natureza. Onde eu furo, eu acho”
Eike Batista

EpígrafE
1. Introdução: viagens à lua e ao fundo do marDelos David Harriman, um empreendedor norte-americano, tinha um sonho: queria ser o primeiro homem a conquistar a lua.
Ambicioso, convenceu George Strong, um dos principais financistas do seu tempo, a investir na empreitada.
Embora a tarefa parecesse impossível, Harriman conseguiu levar seu plano adiante, graças à sua capacidade de unir e mobilizar interesses empresariais e políticos.
Para levantar recursos, convenceu a empresa Moka-Coka, uma indústria de refrigerantes, a transformar a lua num imenso outdoor – e, assim, tomar o lugar da grande rival, a Coca-Cola, no mercado de bebidas.
A iniciativa de Harriman, no entanto, não ficava confinada às fronteiras dos Estados Unidos. Num mundo pós-Segunda Guerra Mundial, ele percebeu também as oportunidades abertas pela crescente tensão com a União Soviética. E prometeu aos russos estampar a foice e o martelo na superfície lunar, se eles fossem capazes de chegar lá antes do que os norte-americanos.
Habilidoso, persuadiu até as Nações Unidas a lhe garantir o controle sobre a exploração da lua. E para garantir recursos, ele se mostrou disposto a tudo: trapacear, mentir, roubar e corromper.
Para alimentar o frenesi em torno da empreitada, Harriman divulgou rumores sobre a existência de diamantes na lua e vendeu selos sobre a conquista especial até para crianças.
Evidentemente, no caso de Harriman, tudo não passava de literatura. E a conquista da sua “terra prometida” formava o eixo da novela de ficção científica “The man who sold the moon”, do escritor norte-americano Robert A. Heinlein, escrita em 1949 e publicada em 1951.
Desde então, “vender terrenos na lua”, se tornou sinônimo de malandragem e charlatanismo. Nos Estados Unidos, existem até hoje sites que vendem propriedades extraterrestres. É o caso, por exemplo, do www.lunarlandowner.com e do www.moonstates.com.
No Brasil, nunca houve iniciativas do gênero, nem na literatura, nem na vida empresarial.
Mas, aqui, existe um personagem único, raro e que não poderia ter sido concebido nem na ficção científica.
Seu nome é Eike Furkhen Batista, o empresário que protagonizou a maior bolha individual de já vista na Terra, em todos os tempos. E que, depois de seu estouro, fez evaporar mais de R$ 100 bilhões de uma riqueza que jamais existiu de verdade – mas apenas em suas promessas e na ilusão dos investidores do Brasil e do mundo, que, por ele, foram ludibirados.
Parafraseando o ex-presidente Lula, nunca antes na história deste país (e nem da humanidade), um único homem foi capaz de levantar tantos recursos, apresentando apenas esboços de empresas ou projetos de investimento. Em outras palavras, nunca um conjunto de apresentações produzidas em power-point foi tão longe.
Se Eike leu ou não a novela de Robert A. Heinlein, não se sabe. Mas enquanto o personagem de ficção sonhava com a lua, Eike buscava riquezas na superfície da terra e no fundo do mar. Num dos recorrentes esforços para inflar a própria bolha, chegou a comparar a exploração do pré-sal, pelos brasileiros, à conquista lunar pelos norte-americanos.
Eike jamais teria chegado tão longe em sua fantasia, se não contasse com com o apoio de amigos nos meios de comunicação, como o colunista Lauro Jardim, de Veja.com, que, em 16 de janeiro de 2012, cravou:
Eike e Dilma
A OGX, de Eike Batista, comunicou há pouco à CVM a descoberta de óleo na Bacia de Santos. São, e isso não consta do comunicado, reservas equivalentes a 2 bilhões de barris de petróleo.
É um volume capaz de fazer muito barulho no mundo do petróleo. Para que se possa comparar, as reservas estimadas no pré-sal são de 5 bilhões de barris.
A diferença é que o óleo descoberto nos poços de Eike Batista está em águas rasas, tanto em área do pré quanto do pós-sal. O custo de produção, portanto, será mais baixo do que se fosse em águas profundas.
A descoberta deu-se a 102 quilômetros da costa. Numa linha reta, situa-se a 80 quilômetros de Paraty.
Uma concidência destinada a entrar para o folclore do homem mais rico do Brasil. De acordo com o relato que fez ontem para Dilma Rousseff, quando lhe contou sobre a descoberta, Eike afirmou que a descoberta foi feita na 63ª tentativa – 63 é o número da sorte do supersticioso empresário.
Na conversa, Eike comparou a aventura do Brasil no pré-sal à corrida espacial empreendida pelos EUA nos 60:
John Kennedy queria ir à lua. Parecia impossível, mas os EUA conseguiram. Com o pré-sal é a mesma coisa.
Eike vendia vento engarrafado, mas tinha compradores. Numa de suas inúmeras boutades, chegou a declarar que tinha um pacto com a natureza. “Onde eu furo, eu acho”, cravou.
Era até surpreendente imaginar que uma empresa como a Petrobras não tivesse sido capaz de detectar a presença de 2 bilhões de barris de petróleo, quase metade do pré-sal, bem ali, diante do seu próprio nariz, nas águas rasas de Paraty – o que Eike teria encontrado em poucos meses de prospecção.
Quanta incompetência da estatal brasileira… e quanta habilidade de Eike!
Pena que fosse tudo mentira. Mas era um momento em que o Brasil e o mundo pareciam dispostos a fechar os olhos para a realidade e a acreditar nas promessas vazias de um aventureiro.
Na ficção científica, David Harriman, o protagonista de “The man who sold the moon”, não media esforços para levar adiante seus planos.
Com Eike Batista, não foi diferente.
fonte:amazonbooks