Por Leila Cordeiro
Será que todo mundo sabe mesmo o que é preconceito?
Ultimamente essa palavra tem sido perigosamente pronunciada por qualquer motivo ou razão. Com tantas regras do “politicamente correto” circulando nas veias da justiça, qualquer palavra ou olhar estranho de uma pessoa para outra pode ser acusado de discriminação e daí para virar um processo é um pulo.
Essa semana, a mais famosa apresentadora americana Oprah Winfrey, botou a boca no mundo dizendo que foi alvo de preconceito racial ao entrar numa loja de bolsas na Suíça. Segundo ela, a bolsa de seu interesse custava quase 40 mil euros e, ao vê-la, a vendedora deu a entender que ela não teria condição de comprar a peça feita de crocodilo em tom de azul, indicando outras mais baratas.
No momento em que Oprah denunciou o incidente, o mundo todo se solidarizou com ela. Claro! Imagine que absurdo. Logo Oprah, que teria condição até de comprar toda a loja com sua fortuna de bilhões de dólares passar por tamanha humilhação?!
Diante da repercussão mundial da queixa da apresentadora americana, os donos da loja pediram desculpas dizendo que iriam averiguar o que tinha acontecido. Já a vendedora acusada de ter discriminado Oprah se mostrou surpresa, alegando que jamais poderia ter se negado a vender a bolsa à apresentadora americana, já que ganha comissão proporcional às vendas.
Ela alegou que apenas ofereceu outras opções parecidas e mais baratas à Oprah porque essa é a política de vendas determinada pela própria loja. O cliente tem sempre que ter conhecimento de que está fazendo a escolha certa ao levar o produto mais caro.
Aí, parece que Oprah, com toda a sua experiência e sabedoria, viu que poderia ter pisado na bola ao fazer tão grave acusação à vendedora que vive de pequeno salário e de comissões. Voltou à mídia para garantir que não teve a intenção de “queimar” a loja e muito menos a vendedora, alegando que fez apenas um comentário sobre o acontecido, mas que dava o dito pelo não dito. E pronto! Tudo resolvido.
Mas é ai que entra a responsabilidade de cada um e o peso de suas declarações em público. Não se pode arriscar um “achismo” discriminatório, pois as consequências podem ser irreversíveis. Já imaginaram a pobre da vendedora demitida por uma acusação leviana da bilionária e poderosa apresentadora? Mas a loja saiu em defesa da vendedora, dizendo que ela não seria punida porque agiu corretamente, de acordo com as normas da casa.
Claro que os tempos são outros, claro que o direito de todos os seres humanos são iguais e mais claro ainda que ninguém tem o direito de se julgar melhor do que aquele que nasceu diferente, ou escolheu ser diferente do que impõem as regras da sociedade.
Mas é preciso cautela no julgamento de possíveis vítimas de discriminação, principalmente quando pessoas famosas estão envolvidas. A mídia, de um modo geral, transforma denúncias em verdades absolutas, mesmo antes da comprovação de sua veracidade.
Há uma outra vertente nessa história. Quem sabe Oprah não acusou a vendedora de atitude racista, numa espécie de vingança por não ter sido reconhecida por ela. Pode ser, não?
Mas isso agora é passado. O fato é que a repercussão da polêmica teve o seu lado providencial. O filme “The Butler”, estrelado por Oprah, ganhou uma projeção mundial e deve ter aumentado as bilheterias de todo o mundo. Afinal, é aquela história “That`s entertainment”…