Jornalista fala sobre entrevista exclusiva com militar que ocultou o corpo de Rubens Paiva

Ganhadora da 11ª edição do Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo, na categoria “Jornalismo Impresso”, pela matéria “Revelações do Coronel Malhães”, Juliana Dal Piva, do jornal O Dia, falou com exclusividade à IMPRENSA sobre a longa apuração que culminou em um dos grandes furos de 2013.
Crédito:Vanessa Gonçalves
Juliana Dal Piva é vencedora da categoria “Jornalismo Impresso”

Ao investigar em 2012 os casos de tortura na chamada “Casa da Morte”, que funcionou durante a Ditadura, a jornalista chegou ao sítio do coronel Malhães sem jamais imaginar o que o militar iria revelar. Depois de mais de 10 horas de conversa divididas em duas ocasiões, ele acabou assumindo parte da responsabilidade pela ocultação dos restos mortais do deputado Rubens Paiva, desaparecido no Rio de Janeiro, em 1971. Desde então, o exército sustentava que o político havia fugido de uma batida policial.

Esta se tornou a primeira e única confissão pública de um torturador brasileiro que tinha patente militar. Em abril deste ano, a história ganhou um novo capítulo, depois que misteriosamente a casa do coronel foi invadida e um computador foi levado. Na ocasião, o militar foi assassinado. A justiça apura o caso, mas a possibilidade de queima de arquivo não foi descartada.
IMPRENSA – Como foi o processo para você localizar o coronel Malhães e depois convencê-lo a revelar parte de sua responsabilidade no assassinato do deputado Rubens Paiva?
Juliana Dal Piva – Localizar o coronel Malhães foi um processo bastante longo, vem de um trabalho desenvolvido desde 2012. Na época, fiz uma série de reportagens sobre a Casa da Morte para o jornal O Globo e o coronel Malhães era um dos agentes apontados como possível administrador do lugar. Eu e o Chico Otávio – repórter de O Globo – fomos até o sítio dele e demos a sorte de ele nos encontrar na porta e aceitar conversar. Na época ele deu uma entrevista de cinco horas contando um pouco do trabalho dele durante a repressão, mas sem comentar sua relação com o deputado Rubens Paiva.
A partir de quando soube de mais detalhes sobre a participação do coronel no crime?
Mantive contatos esporádicos com ele, mas só neste ano ele disse que queria contar mais coisas. Paralelamente, a investigação da morte do deputado Rubens Paiva foi avançando em diversas frentes, na Comissão da Verdade, Polícia Federal, Ministério Público, e o coronel resolveu contar que ele também fazia parte dessa história. Eu estava perguntando sobre outro caso quando ele decidiu falar sobre Rubens Paiva durante a entrevista. Foram mais de seis horas quando ele contou sua participação na operação que deu fim aos restos mortais do deputado.

Como você se sente por contribuir para a solução do caso do desaparecimento do deputado Rubens Paiva?
Eu fico feliz. Essa é uma responsabilidade de cidadã, não só profissional, de a gente encarar o que aconteceu na Ditadura para promover uma reconciliação social. Gosto muito de pesquisar sobre esses casos pelo caráter histórico que eles têm. O caso do Rubens Paiva se tornou um pouco menos difícil de se investigar porque ao longo das últimas décadas o jornalismo brasileiro desempenhou um papel muito importante de investigar o que se passou na Ditadura. Surgiram vários detalhes que foram se provando agora. Me sinto feliz porque faço parte dessa equipe que tem trabalhado nos últimos 40, 50 anos nesse front.
Prêmio Líbero Badaró
Iniciativa da revista e portal IMPRENSA, com apoio da Câmara Municipal de São Paulo e de associações ligadas à liberdade de imprensa, o Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo visa estimular o desenvolvimento da imprensa brasileira, distribuindo R$ 72 mil aos melhores trabalhos jornalísticos do país, tanto de profissionais quanto de universitários.
A 11ª edição reconheceu as melhores matérias – veiculadas de 8 de abril de 2013 a 7 de abril de 2014 – em 10 categorias, mais duas categorias especiais: Grande Prêmio Líbero Badaró, à melhor matéria ou reportagem inscrita e Contribuição à Imprensa, que reconhecerá a contribuição à mídia brasileira feita por uma instituição, empresa ou pessoa física.
fonte:PI