Rastros do ódio

Carlos Brickmann

 Todos negarão o inegável, faz parte do jogo. Mas os desdobramentos da Operação Lava-Jato confirmam a guerra entre Poder Executivo e Polícia Federal. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, acusa delegados da PF que estão no comando da operação de ter apoiado o candidato oposicionista Aécio Neves, do PSDB, e feito comentários depreciativos sobre líderes políticos do PT – embora em perfis fechados, a que só têm acesso os membros do grupo, embora sem uso de equipamento público. E mandou abrir sindicância sobre seu comportamento.

Bobagem: a Constituição garante a livre opinião e os delegados podem votar em quem quiserem, desde que isso não interfira em seu trabalho. Mas o Governo acha que há má-vontade do pessoal da Lava-Jato em relação a seus amigos e aliados. E já mobilizou suas tropas contra os federais: jornalistas, internautas, o mesmo grupo que martelou os adversários de Dilma durante a campanha, começaram ao mesmo tempo a bater nos novos adversários.

O objetivo é demonstrar a parcialidade dos delegados e, a partir daí, tentar anular a Lava-Jato, ou de pelo menos parte dela. Outra possibilidade é identificar a ação dos delegados com golpismo e organizações paramilitares, como o CCC, Comando de Caça aos Comunistas, que existiu há pouco mais de 40 anos. Há profissionais especializados emcharacter assassination tentando montar dossiês não apenas dos delegados, mas também do juiz federal Sérgio Moro, que cuida do caso Lava-Jato.

E há a luta por posições no novo mandato de Dilma. Mas essa é outra história.