A americana Jenny Barchfield, repórter da Associated Press no Rio de Janeiro, achava que entendia os obcecados pela imagem. Durante muitos anos, trabalhou como correspondente de moda e cultura na França. Fazia críticas dos desfiles de alta-costura e prêt-à-porter, bem como a cobertura do badalado Festival de Cannes. Mas depois que se mudou para o Brasil passou, de fato, a entender o que era a tal obsessão.
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Obra conta com a participação de dez correspondentes
De beleza à religião, das academias às empregadas domésticas, o futebol e as favelas, e as manias dos brasileiros são alguns dos temas analisados sob o olhar de dez correspondentes estrangeiros.
Jenny Barchfield (EUA), Joao Almeida Moreira (Portugal), Henrik Brandao Jonsson (Suécia), Lamia Oualalou (Marrocos), Philipp Lichterbeck (Alemanha), Santiago Alberto Farrell (Argentina), Tom Phillips (Inglaterra), Veronica Goyzueta (Peru) e Waldheim Garcia Montoya (Colômbia) participam do livro “Palavra de Gringo – um olhar estrangeiro sobre o Brasil” (Editora Língua Geral).
De acordo com o editor da obra e correspondente Hugo Gonçalves, houve a preocupação em buscar jornalistas das mais diversas nacionalidades e que tivessem um profundo conhecimento sobre o Brasil.
“São pontos de vista muito diferentes, mas com uma coisa em comum: o olhar do jornalista com anos de carreira. As diferenças culturais também influenciam a forma como enxergam o Brasil. A Lamia, por exemplo, é muçulmana e escreveu sobre os evangélicos e a experiência com as pessoas que questionavam, por exemplo, porque ela não usava um lenço. Tudo isso influenciou como ela viu a tolerância ou intolerância religiosa por aqui”, diz.
Segundo Gonçalves, por norma, a missão do correspondente é desativar o clichê. Como introduz em sua apresentação, o profissional é, sobretudo, um observador e um contador de histórias. “O correspondente tem que saber – e conseguir explicar – o que é a Lei de Gérson, “levar um bolo” ou o que faz um ‘flanelinha’. O seu olhar estrangeiro, mais fresco e menos rodado, permite ver aquilo que passa despercebido a quem sempre viveu aqui”.
Em sua crônica, o sueco Henrik Brandao Jonsson explica que existe uma coisa chama “Brazilian blues”, ou seja, o correspondente chega em terras tupiniquins com aquele ar de encantamento, achando tudo uma maravilha. Mas, com o tempo, percebe que é um país bem mais complicado do que parece.
“Qualquer jornalista por aqui vai enfrentar questões mais delicadas, desde racismo, desigualdade social a descaso de autoridades. Na Alemanha, por exemplo, se uma criança desaparece, sai notícia em todo lugar, as pessoas se movimentam. No Brasil, acontece esse tipo de coisa todos os dias e ninguém sabe”, afirma o editor.
Outra história, que para Gonçalves é um excelente retrato do Brasil, é da americana Julia Michaels, autora do blog Rio Real. Em “Empregadas e outros trabalhadores domésticos: Confissões de uma gringa, repórter e dondoca”, Julia, a contar com seus 33 anos de experiência com empregadas, dá ênfase para uma questão que, mesmo morando por aqui há tantos anos, ainda chama sua atenção: a desigualdade.