
Por Luce Pereira
Como ocorre no fim das férias, quando parece que a rotina não passa de uma estranha e intrometida senhora disposta a nos mostrar o peso da vida real, o cidadão comum chega ao pós-Copa dizendo “foi um sonho que durou 30 dias”. Independentemente da fraca campanha do Brasil no Mundial, as semanas em que a bola rolou por estádios do país foram de brasileiros praticando a letra do samba mais cantado pelos jogadores da Seleção: “(…) Erga essa cabeça/ mete o pé e vai na fé/ manda essa tristeza embora…”. Infelizmente, era apenas um samba e a letra não serve nem para o momento atual, que significa eleições, reflexões e hora de perguntar – como será o amanhã?
Na segunda-feira de ressaca da Copa, a realidade mostrou sua “cara de poucos amigos” em algumas situações, a começar pela demissão de Luiz Felipe Scolari e seus assistentes, o que para considerável parcela da população não é exatamente uma notícia ruim. De qualquer forma, lembra aos brasileiros que os problemas recomeçaram e, neste campo, piores do que antes, pois a CBF precisará mudar (da água para o vinho) sua postura como entidade que comanda os destinos do futebol nacional.
Reinventar-se é a palavra, o que demanda muito trabalho, seriedade, objetividade e planejamento, termos estranhos para quem se diz decidido a chegar onde a Alemanha chegou. A propósito, o amor dos brasileiros pela terra do técnico Joachim Löw tem data marcada para morrer – a Copa da Rússia (2018), onde Götze e companhia farão ainda mais para seu grupo se igualar à Canarinha no número de títulos conquistados.
Ou seja, se o bonde brasileiro não for posto nos trilhos desde já, a Seleção pode deixar, também, de ser a única a possuir cinco estrelas na camisa, um privilégio que parecia pertencer apenas ao olimpo onde mora a glória verde-amarela.
Junto com as dúvidas sobre o futuro da Canarinha, os milhões de torcedores em que se converteu a população do país foram obrigados a se deparar com outro questionamento atroz, este sim digno de muita reflexão. O que será do Brasil depois das próximas eleições, quando o Palácio do Planalto terá novo inquilino e as casas legislativas, novos representantes? É fato que mesmo a energia para as mudanças no futebol brasileiro passa pela forma como o país será comandado, pois da sensibilidade dos governos, também, dependem as medidas capazes de produzir resultados em todos os sentidos.
Assim, a volta à rotina não foi um primor de disposição – demandou muita paciência, inclusive, para encarar agenda política, como a do candidato a governador pelo PTB, Armando Monteiro, que escolheu o Centro para realizar a primeira caminhada da semana. Encontrou pelo caminho, nas ruas Nova e Imperatriz, pessoas sem o entusiasmo que faz ferver as campanhas eleitorais, o que, no entanto, foi devidamente compensado pelo barulho da militância.
Como no fim do reinado de Momo, a apatia mostrou-se visível, sim. Mas teve menos do melancólico encerramento da festa para o futebol nacional e mais (muito mais) da saudade de ver aparelhos de televisão ligados com imagens das disputas entre torcidas e dentro de campo. Saudade da Copa, afinal. A propósito, o que restou do estoque deles não deve acabar com tanta facilidade assim, pois a História mostra que comprar uma TV com o Guia Eleitoral à porta pode ser contra-indicado para o humor de qualquer cidadão que ama mais o Brasil do que a Seleção Brasileira.