PT deixa vermelho de lado e amarela, avalia militância

O Estado de S. Paulo.

O publicitário João Santana, com aval da direção nacional do Partido dos Trabalhadores, praticamente aboliu o vermelho – cor que caracteriza a legenda desde sua fundação – do material gráfico produzido para os dois principais eventos da sigla realizados até agora e que, segundo petistas, deve ser adotado na campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Tanto no aniversário de fundação, comemorado em fevereiro passado, quanto no 14º Encontro Nacional do PT, celebrado no início de maio, os tons de laranja e amarelo predominaram. O vermelho ficou relegado a uma pequena estrela, outro símbolo caro à militância petista, encostada no canto direito do cenário, quase fora do quadro.

Embora pareça um simples detalhe estético, a paleta de cores escolhida por João Santana virou motivo de discussões no partido. Dirigentes e antigos militantes não gostaram da mudança. ‘Quanto mais a campanha se afasta da identidade partidária, menos mobiliza a militância, e quanto mais se aproxima da identidade, mais mobiliza’, disse o secretário nacional de Organização, Florisvaldo Souza.

Petistas mais velhos comparam o padrão visual adotado este ano à eleição de 1998, quando o publicitário Toni Cotrim também trocou o vermelho pelas cores da bandeira nacional na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. A justificativa, à época, foi que Lula e o PT, depois de anos fazendo campanhas baseadas em ataques aos adversários, deveriam se apropriar das ‘cores e signos brasileiros’ para enfrentar a disputa de forma ‘propositiva’.

Tradição – Os veteranos do PT lembram ainda que Duda Mendonça resgatou as cores tradicionais do partido na vitoriosa campanha de Lula em 2002 e que a estrela vermelha não foi escondida nem mesmo em 2006, quando o ex-presidente foi reeleito em uma disputa marcada pelo escândalo do mensalão, revelado um ano antes.

João Santana foi procurado para falar sobre a escolha das cores para a campanha de Dilma Rousseff, mas não respondeu às ligações.

Alguns dirigentes do partido disseram, em conversas reservadas, que o vermelho e a estrela tiveram o papel reduzido propositadamente. José Américo, secretário nacional de Comunicação do PT, negou que a escolha das cores tenha motivação eleitoral.

‘Não é uma coisa deliberada, então daqui a pouco o vermelho volta outra vez. Eu avaliei que está muito bonito. É de bom gosto, bem feito, e a gente tem mesmo que dar uma variada em alguns momentos. Não é a primeira vez que isso acontece e o partido já está acostumado’, disse Américo.