Na década de 80 havia uma demarcação muito nítida do Partido dos Trabalhadores no contexto do nosso sistema partidário. Ao resolver entrar no jogo da democracia representativa brasileira, naturalmente, algumas dessas características que conferiam uma singularidade ao partido, foram se diluindo. Foi o preço pago para chegar ao poder, sobretudo no plano federal. Outro aspecto a ser considerado é a inevitabilidade da Lei de Ferro das Oligarquias, estabelecida pelo sociólogo Robert Michels, que age como uma força centrífuga sobre os partidos e organizações sindicais, oligarquizando-os. Na década dos seus verdes anos, o partido motivou bastante o interesse da academia. Não são poucos os bons estudos realizados sobre o PT, dentro e fora do país. Os tempos passaram e o PT fez uma dura passagem para os estertores da realpolitik. Pelo pronunciamento do seu líder máximo, no dia de ontem, isso fez muito mal ao partido. Lula observou que seria interessante resgatar a utopia petista. Lembrou que naquela época até mesmo a confecção de um panfleto de campanha se fazia com grandes dificuldades. Está na hora de o partido voltar a sonhar, resgatar as utopias que embalaram sua a sua fundação na histórica reunião de 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo. Evidente que alguns daqueles sonhos foram atropelados pela realidade e circunstâncias, mas, a ideia de reconstruir as utopias é boa. Para 2014, nas palavras de Lula, teríamos dois desafios. Além de reeleger Dilma, reconstruir as utopias que fizeram do partido um caso singular no escopo do sistema partidário brasileiro.