Fliporto – Festa Literária de Pernambuco

SEGUNDA CARTA ABERTA AOS VÂNDALOS

Vejam no que resultou aquele borrão feito por Vocês no Mural de Francisco Brennand, na Rua das Flores.

Desencadeou por estimulo uma onda de vandalismo noutras peças históricas de grande valor na paisagem urbana da cidade. No Mural de Brennand vocês quiseram anunciar a Deus e ao mundo que são namorados.

A estátua de Ascenso Ferreira quiseram destruí-la, só não o fizeram porque não houve tempo, por certo. Parece que há um elo nessa cadeia de vandalismos: há um impressionante número de esculturas e obras de arte espalhadas na cidade, vítimas dessa gente.

Palavras não são nada: vá aos belos jardins do Recife, o de Casa Forte, embora em fase de restauro, não deixa de ser local de lavagem de carros. Naquele espelho d`àgua não nascerá sequer uma vitória-regia, dizem os paisagistas. O conjunto de esculturas de Francisco Brennand no girador do Curado esteve há dias servindo de esconderijo de viciados em droga. Esculturas da Praça do Derby são pichadas. Os passeantes só exclamam: que pena, que pena.

Na antiga Praça da República, pulam a cerca e tomam banho nus, nas horas amanhecidas de qualquer domingo. A estátua do sertanejo da Praça do Clube Internacional, jardim temático tão famoso e de uma história belíssima na vida de Burle Marx, é outra sob constante ameaça.

Os devassos do Recife têm uma esperta maneira de atuação. Ninguém os vê. Jamais foram vistos no seu nefasto oficio de desamor à cidade… salvo aquele, por má sorte, que derrubou a estação de Ponte d`Uchoa. Punha-se à espreita dos pichadores, nunca você os verá, sequer as vigilantes câmeras filmadoras noturnas, porque são todos invisíveis.

Sabes, leitor, o que é o silêncio da madrugada na sua consumação plena? No que ele tem de mais intangível? Sem ruídos, sem sons ou mera estridência? É nessa hora que os vândalos atuam na sua trama destruidora. Já que eles entram em cena é pra destruir.

Todos, na verdade, querem dizer: eu existo. O cara que tentou destruir a Mona Lisa não era porque ela não tinha sobrancelhas, ele engrandeceu os olhos e disse pra todo mundo: agora eu existo!!!

A história se repete, nunca deixará de se repetir. No Recife há muitos jovens infelizes, zangados e frustrados querendo dizer EU EXISTO, vou deixar de ser um borrão negro, sob o qual não se percebe nada. É nesse querer, onde reside o perigo, a quebradeira.

Foto de Fliporto - Festa Literária de Pernambuco.Foto de Fliporto - Festa Literária de Pernambuco.Foto de Fliporto - Festa Literária de Pernambuco.
fonte:fliporto
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