Jennifer Gularte
O Globo
Três meses após as denúncias de assédio sexual que derrubaram o ex-ministro de Direitos Humanos Silvio Almeida, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, uma das vítimas, tenta se equilibrar entre pressões internas pela exposição do caso e críticas de setores da comunidade negra, que apontam descaso com políticas públicas voltadas para o segmento.
A estratégia da ministra tem sido intensificar anúncios da pasta e se aproximar do núcleo duro do governo.
CRISE NA GESTÃO – O episódio envolvendo os dois ministros de Lula abriu uma crise na gestão petista. Antes de as denúncias serem reveladas, os relatos sobre a conduta de Almeida já circulavam no Planalto há pelo menos um ano, o que gerou especulações sobre suposta tentativa de abafar o caso.
Após a demissão, contudo, Anielle agiu para blindar o presidente e colegas de Esplanada.
Em entrevista ao GLOBO, em outubro, afirmou que nunca havia conversado com ninguém do governo sobre o assunto e que Lula só soube quando a imprensa noticiou.
DESAFIO MAIOR – O entorno da ministra considera que sua missão no governo ficou ainda mais desafiadora após a revelação do caso. Anielle tem se mobilizado para superar o episódio e dar visibilidade aos temas do ministério.
Até mesmo com pessoas próximas, a ministra afirma não querer tratar do que aconteceu para focar em assuntos da pasta. Procurada pela reportagem, ela não quis comentar. Almeida também não quis falar.
Além de sua relação de amizade com a primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, Anielle tem sido prestigiada por Lula em eventos públicos, em demonstrações de apoio. O último deles ocorreu há dez dias, quando ela esteve ao lado do presidente, no Palácio do Planalto, para a assinatura da titulação de 15 territórios quilombolas.