A revolução do poeta é quando o coração do poema se levanta. Por Flávio Chaves

Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Há momentos em que o silêncio do mundo soa mais alto que todos os gritos, como se o tempo esperasse por algo grandioso. É nesse hiato entre o que foi e o que virá que o coração, pulsando como um tambor ancestral, começa a compor seu poema de mudança. Cada batida é um chamado à coragem, cada pausa, um espaço para o sonho. E às vezes, ele explode, sem pedir licença, incendiando almas, criando uma revolução.

“Dentro de cada um de nós, há um pedaço de céu, e um pedaço de inferno”, escreveu Dostoievski, revelando o campo de batalha invisível que todos carregamos. É nesse terreno de contrastes que o coração trabalha, transformando nossas sombras em luz e nossas fraquezas em força. Não há revolução que comece fora, antes de florescer dentro.

O amor pelo outro, pela justiça e pela liberdade, é a maior das forças. Tolstói, em sua busca por verdade, advertia: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.” Talvez, então, a grande mudança que almejamos para o mundo dependa das revoluções que travamos em nós mesmos — batalhas silenciosas que, um dia, ecoarão como trovões.

E é o coração que sente a dor do outro como sua própria que se torna o poeta da transformação. “Não se pode tocar o amanhecer se não tiveres percorrido o caminho da noite”, escreveu Khalil Gibran. A escuridão que enfrentamos, as injustiças que nos sufocam, são o prelúdio da luz. Cada lágrima derramada rega a esperança, cada passo dado na incerteza pavimenta o caminho da liberdade.

Como Dante descobriu em sua jornada épica, mesmo no abismo mais profundo, a força que nos guia é o amor. “O amor que move o sol e as outras estrelas” é o mesmo que move multidões, que ergue mãos unidas e sussurra aos corações aflitos: sigamos em frente.

Mas a revolução não é apenas sonho; é também um ato. Baudelaire, com sua sede de infinito, escreveu: “Quem olha para o céu por muito tempo acaba tendo asas.” E não é essa a promessa da mudança? Elevar-nos acima do que nos prende, desafiar as correntes da apatia e voar em direção ao que parece impossível.

Confúcio nos lembra: “Aquele que move montanhas começa carregando pequenas pedras.” Que nossas pequenas ações diárias — o sorriso compartilhado, a palavra de encorajamento, a indignação transformada em gesto — sejam as pedras que constroem o novo mundo.

E quando a caminhada parecer longa, quando o cansaço ameaçar dobrar os joelhos, lembremos das palavras de Camus: “No meio do inverno, descobri que havia dentro de mim um verão invencível.” Porque a resistência é, acima de tudo, a arte de acreditar.

Se o coração é poema, que sejamos todos poetas. Que as ruas sejam nossos versos, o horizonte, nossa rima. Que a união de mãos dadas seja a estrofe mais poderosa. Porque há muito a fazer e pouco a temer. E porque o coração, em sua teimosia infinita, já decidiu: a revolução começa agora, aqui, em nós.