Em um mundo que passa por uma crise econômica e algumas rachaduras no capitalismo, o historiador Eric Hobsbawm, um dos maiores defensores do socialismo, apresenta uma série de ensaios autorais sobre o marxismo, escritos ao longo dos últimos 50 anos, constituindo um importante material de reflexão sobre os séculos XIX e XX. Mais do que isso, o autor tenta montar alguma base do que podemos esperar do tempo em que vivemos, mesmo que de forma abstrata.
Com um título sugestivo, espera-se que “Como mudar o mundo – Marx e o Marxismo“, (assim mesmo, sem nenhuma interrogação, mas sim uma afirmação, soando até mesmo como um manual), apresentaria respostas ou palpites sobre a situação econômica atual e rumos a serem trilhados, mas os leitores que se aventurarem por esse material encontrarão, assim como na própria história que vai além dos livros didáticos, mais incertezas do que respostas. O título vem do questionamento essencial para a mudança, como sugere o próprio autor: ”Não podemos prever as soluções dos problemas com que se defronta o mundo no século 21, mas quem quiser solucioná-los deverá fazer as perguntas de Marx, mesmo que não queira aceitar as respostas dadas por seus vários discípulos”.
Outra expectativa a ser quebrada, é a busca por textos claros e explicativos sobre o socialismo e suas várias vertentes políticas. Nesse quesito, o livro praticamente não traz contribuição, pois trata-se muito mais de uma reflexão do que informação de forma direta. Já no próprio prefácio, o autor alerta que a maioria dos capítulos é dirigida a um público que possue um interesse maior pelo Marxismo, além de curiosidade.
A ideia proposta, em teoria, pelo autor, é tentar analisar o marxismo como teoria sem associá-lo a modelos práticos que puderam ser eventualmente distorcidos de sua essência. Digo “em teoria” por dois motivos: Primeiramente, porque é difícil analisar Marx sem esbarrar em suas aplicações históricas, mesmo que equivocadas. É algo que vai além das páginas do livro e está na nossa própria memória coletiva; Em segundo lugar, porque acredito que esta já é uma opção com algum direcionamento político. O autor reserva, por exemplo, vagos momentos ao citar Trotsky e Lênin, o que é, de certo modo, ignorar uma grande contribuição do marxismo colocado em prática, além de tratar o stalinismo como um exemplo de regime socialista, mesmo reconhecendo que ele é uma má memória para as pessoas. Além disso, ele elege Gramsci em posição de destaque.
Com tudo isso, o foco histórico dos ensaios de Hobsbawm não são os regimes que viveram o socialismo ou se posicionar a favor ou contra, mas sim mostrar os motivos que levaram a sociedade a se afastar e aproximar do socialismo em diferentes pontos da história, além de perceber como o pensamento marxista se aplica à memória, desejos e vontades da sociedade, e como ele é uma corrente fundamental de pensamento para desencadear vários fatos nesses anos. O fato é que O capital é “quase profético” em diversos pontos, ao falar sobre uma crise econômica e uma situação onde poucos possuem muitos bens e dinheiro. Marx, quando morreu, pouco veria as contribuições políticas e históricas que os seus ideais causaram no mundo.
Título original: How to change the world
Tradução: Donaldson M. Garschagen
Páginas: 424
Fonte: Ingrid Coelho do blog Meia Palavra