Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc
Hoje, o coração bate diferente. Ele se encolhe, como se soubesse que um pedaço da nossa história partiu. Helimar Santiago, meu amigo, meu conterrâneo, meu irmão de tantas caminhadas, nos deixou para trilhar outros caminhos, agora no horizonte eterno da vida. E não há palavras que alcancem a vastidão do vazio que ele deixa em nós.
Lá na nossa Carpina nos encontramos muito. Quantas lembranças me vêm à mente agora. As ruas de chão batido, o cheiro de terra depois da chuva, as brincadeiras inocentes que enchiam os dias de alegria. A rua dos tamarindos. Helimar estava sempre ali, com aquele sorriso fácil, aquela presença que confortava, que inspirava. A família dele, tão entrelaçada à história da antiga Floresta dos Leões. Dona Zefinha, sempre acolhedora, e o Coronel Lima, uma figura de respeito, de quem herdou a retidão e a ética que marcaram sua vida. A família Santiago, tão querida, é parte daquilo que somos, do que levamos no coração. E como não lembrar de Teca, Mano e Marcos, o nosso Charles Bronson -com aquele bigodão dele que ainda hoje preserva. Apelido colocado por Carlos Peruca, quando estávamos todos sentados na calçada do Clube Lenhadores, que ficava de frente para os tamarindos, próxima aos correios, conversando e brincando com coisas próprias da nossa idade,
Helimar, com sua voz inconfundível, fez história no rádio, mas, para mim, ele sempre será o menino que correu pelos campos e ruas de Carpina, sonhando alto. Era um sonhador, mas também um realizador. E que jornada incrível ele fez! Levou seu talento para o mundo, se tornou a “voz de ouro” do rádio esportivo, tocou vidas e corações com sua emoção, sua paixão, seu jeito único de narrar os momentos mais marcantes do esporte. Eu sempre soube que ele seria grande, mas ver seu nome ecoando nas rádios, cativando multidões, foi algo que me encheu de orgulho.
A vida tem dessas coisas. Nos lança em direções diferentes, nos separa fisicamente, mas a amizade verdadeira nunca se desfaz. Mesmo longe, sempre soube que Helimar estava lá, firme como uma rocha, com os mesmos valores que compartilhava na infância e adolescência. O escotismo, o serviço público, a dedicação ao rádio, tudo isso refletia o homem íntegro que ele sempre foi. Eu não poderia esperar menos de quem cresceu sob os princípios fortes de uma família nobre como a sua.
Mas, hoje, as palavras falham. A despedida de um amigo assim é um golpe que a vida nos dá e que só o tempo pode amenizar. Resta o consolo de saber que ele cumpriu sua missão com grandeza. Foi um pai exemplar, um irmão amoroso, um marido dedicado, um avô carinhoso. Foi tudo o que deveria ser, e mais um pouco. O legado que ele deixa vai além do rádio, vai além das transmissões esportivas. Helimar deixa em cada um de nós um exemplo de vida, de como ser grande com humildade, de como ser forte com ternura.
Hoje, me despeço de um grande amigo, mas sei que, de alguma forma, ele continua conosco. Nas memórias de infância, nos risos que dividiu, nas lições de exemplos que deu. Carpina, nossa cidade natal, também o homenageia, pois ele é parte viva da sua história, da nossa história.
Vá em paz, Helimar. Que as ondas do rádio celestial transmitam a sua voz por toda a eternidade. E que, algum dia, possamos nos reencontrar, em algum lugar além do tempo, para continuarmos nossa conversa. Enquanto isso, ficamos aqui, com o coração apertado, mas gratos por termos caminhado ao seu lado por um trecho dessa jornada chamada vida.
Até breve, meu amigo.