Choque de realidade. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

As disputas simultâneas da Eurocopa, na Alemanha, e Copa América, nos Estados Unidos, provocaram um choque de realidade. Cair na real não é fácil, seja qual for a circunstância. Foi o que aconteceu com o torcedor sul-americano ao traçar um paralelo entre as duas realidades, as das escolas europeia e sul-americana, que sempre brigaram que hegemonia do futebol mundial.

%u201CLembrem-se: a Jules Rimet é nossa para sempre!%u201D. Com esta frase, o saudoso Ivan Lima, um dos maiores narradores da história da radiofonia esportiva brasileira, encerrava as jornadas esportivas nos prefixos onde estava no comando.

Um lembrete mais que verdadeiro, contudo, a posse definitiva da Jules Rimet, que se deu com a conquista do tricampeonato, no México, em 1970, serviu como um divisor de águas na história do futebol mundial. A Europa retomou o caminho do progresso. O futebol seguiu os passos do crescimento econômico. As conquistas foram surgindo como uma resposta natural a organização.

De 1970 para cá foram disputadas treze edições de mundiais. A América do Sul conquistou cinco títulos: três com a Argentina (1978, 1986 e 2022), e dois com o Brasil (1994 e 2002). Em franca recuperação, a Europa que na década de 60 inseriu no seu calendário de seleções a disputada da Eurocopa, levantou oito títulos mundiaia; Alemanha (1974, 1990 e 2014); Itália (1982 e 2006); França (1998 e 2018) e Espanha (2010).

Nos últimos cinquentas anos três países entraram para o seleto grupo dos campeões mundiais: Argentina, França e Espanha. Por outro lado, dois campeões mundiais desidrataram e não conseguiram subir no alto do pódio: Uruguai, que foi campeão em 1930 e1950 e a Inglaterra campeã do Mundial que promoveu em 1966.

O Século XXI chegou trazendo a reboque uma nova ordem. A abertura total e irrestrita levou o maior torneio do futebol mundial para os continentes africano e asiático. Todas as barreiras foram quebradas, as portas foram escancaradas e os jogadores se viram livres para o ir e vir em busca dos seus sonhos.

O futebol se transformou num dos maiores negócios do mundo, cobiçado por grandes investidores. Em meio a todas as transformações, duas coisas precisam ser respeitadas: o talento que o ser humano traz consigo de berço e a vocação natural que é uma herança cultural de cada povo, cada nação.

Os Estados Unidos insistem em investir no negócio futebol. Mas o povo norte-americano não tem o esporte no rol dos favoritos. A edição da Copa América, que se encerrou no domingo, a segunda realizada na Terra de Tio Sam, foi prestigiada por torcedores de %u201Coutras américas%u201D, como bem ressaltou o mestre José Joaquim Pinto de Azevedo. E os torcedores sul-americanos foram protagonistas de cenas grotescas, que revelaram a distância que atualmente nos separa do futebol europeu.

Diminuir as dimensões do campo de jogo; promover show no intervalo da partida, intervir no protocolo com ações de marketing foram alguns dos absurdos protagonizados pelos promotores do evento que nada agregaram ao esporte, pelo contrário, bagunçaram o coreto.

O futebol tem seus mistérios, e mantém suas “caixinhas de surpresas”, como diriam os mais velhos, mas após as disputas da Eurocopa e Copa América, com o show de lambanças que assistimos do lado de cá, fica difícil sonhar com um novo título brasileiro.

Por enquanto vou me contentando com o vozeirão de Ivan Lima:

“A Jules Rimet é nossa para sempre!”