Em 2009, no Congresso de Literatura, eu e o amigo Eduardo Galeano.
Por Flávio Chaves – Jornalista, escritor, poeta e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc
Eduardo Galeano nasceu em Montevidéu, em 1940. Mais que o Galeano conhecido por qualquer um que já tenha ouvido falar de “uma América Latina de veias abertas”, ele é o autor das palavras que sangram, do mundo dilacerado e ferido, dos mais de 30 títulos traduzidos em mais de 20 idiomas. Galeano não é apenas um escritor; ele é um cronista das injustiças, um poeta das dores e das esperanças de um continente marcado por conflitos, desigualdades e resistências.
Sua obra mais conhecida, “As Veias Abertas da América Latina”, é um grito de denúncia, uma análise implacável das explorações e opressões sofridas pela América Latina ao longo dos séculos. No entanto, Galeano vai além do papel de historiador e crítico social. Ele é um contador de histórias que consegue capturar a essência humana em cada linha, em cada parágrafo.
O estilo de Galeano é único, uma mistura de prosa poética e narrativa jornalística que confere às suas obras uma profundidade e uma beleza raras. Ele tem a habilidade de transformar o cotidiano em algo extraordinário, de encontrar poesia na prosa e vice-versa. Seus textos são como pequenos quadros, cada um pintando uma cena, um momento, uma emoção que reverbera no leitor.
Em “O Livro dos Abraços”, por exemplo, Galeano nos oferece uma coleção de vinhetas curtas, histórias que tocam a alma pela simplicidade e pela profundidade. Ele nos lembra que a história não é feita apenas pelos grandes eventos e pelos grandes homens, mas também pelos pequenos gestos, pelas vidas anônimas, pelos momentos que, apesar de parecerem insignificantes, carregam em si o peso do mundo.
A escrita de Galeano é também um ato de resistência. Em um mundo cada vez mais dominado pelo superficial e pelo efêmero, ele nos convida a olhar para as raízes, a entender as causas profundas das dores e das alegrias da humanidade. Seus textos são um chamado à reflexão, à ação, à empatia. Ele nos desafia a não sermos meros espectadores da história, mas a participarmos ativamente dela, a lutarmos por um mundo mais justo e humano.
Além de sua relevância política e social, a obra de Galeano é um testemunho do poder da literatura. Ele mostra que as palavras podem ser armas poderosas, capazes de despertar consciências, de mudar percepções, de transformar realidades. Galeano nos lembra que a literatura não é apenas um entretenimento, mas uma ferramenta de luta e de transformação.
Eduardo Galeano, com sua sensibilidade e seu compromisso com a verdade, deixa um legado inestimável para a literatura mundial. Seus livros são um convite à reflexão profunda sobre a condição humana, uma celebração das resistências e das lutas, um abraço literário que nos conforta e nos desafia ao mesmo tempo. Galeano nos deixa a lição de que, mesmo nas piores adversidades, a humanidade encontra sempre uma maneira de resistir, de lutar, de sonhar.
Em um mundo onde as vozes dos oprimidos muitas vezes são silenciadas, a obra de Galeano ressoa como um poderoso eco, lembrando-nos de que a luta por justiça e dignidade é uma luta de todos nós. Que suas palavras continuem a inspirar gerações, a nos fazer olhar para a América Latina e para o mundo com olhos mais atentos e corações mais abertos. Galeano nos ensina que a verdadeira liberdade começa no momento em que começamos a questionar, a sonhar, a lutar. E, sobretudo, a abraçar a vida em toda a sua complexidade e beleza.