Ao fingir que vai punir chefes militares, Moraes está brincando com a verdade

Charge do JCaesar | VEJA

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Carlos Newton  

Já dissemos aqui na Tribuna da Internet que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, tomou uma decisão audaciosa, arriscada e altamente irresponsável, ao determinar a operação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, dois ex-ministros da Defesa, dois ex-comandantes militares da gestão passada, outros militares e ex-assessores palacianos.

Explicamos que a decisão significa, em tradução simultânea, que o ministro estaria disposto a processar e julgar chefes militares como se fossem terroristas, com punições idênticas às aplicadas àqueles bolsonaristas fanáticos que participaram do 8 de Janeiro.

EXÉRCITO APOIA? – Estranhamos também uma reportagem do site g1, por afirmar que “o Exército acompanha o cumprimento dos mandados ligados aos militares, em apoio à PF”.

Se for confirmada essa informação, isso significaria que o Alto Comando do Exército concorda com os “exotismos e excessos” de Moraes e entende que há provas materiais suficientes para incriminar Bolsonaro e o grupo inteiro como “terroristas”.

Se confirmadas, as condutas do grupo militar liderado por Bolsonaro podem ser enquadradas em crimes como organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado, exatamente como acontece com os invasores dos palácios em 8 de janeiro de 2023, que estão pegando entre 17 e 21 anos de prisão.

“ISSO NON ECZISTE” – Padre Óscar Quevedo não seria enganado com essa conversa fiada de Moraes. O mundo acaba e o Alto Comando do Exército não aceita que oficiais-generais sejam julgados e condenados pela Justiça comum, sem provas materiais, sem direito de defesa oral e sem possibilidade de recurso, com a acusação baseada no disse-me-disse de um tenente-coronel corrupto e que desonrou a farda por causa de 30 dinheiros.

Moraes está fazendo espuma, ao vazar notícias escandalosas para destruir Bolsonaro e o grupo de militares que o cercava. General Braga Netto disse isso, general Augusto Heleno afirmou aquilo, a minuta do golpe ia prender fulano, beltrano e sicrano, um verdadeiro festival para a mídia.

ESQUECIMENTO – Um dos problemas de Moraes é a memória curta. Esquece, por exemplo, que Bolsonaro simboliza um sentimento anti-Lula que é consensual nas Forças Armadas.

Os militares somente permaneceram quatro anos coesos com Bolsonaro por dois motivos: 1) pelos favores concedidos, como a manutenção da Previdência e os vultosos aumentos salariais, que os retiraram da situação de inferioridade a que estavam relegados desde a era do trêfego Fernando Henrique Cardoso; 2) o sentimento de desprezo que sentem em relação a Lula, porque sabem que foi um erro grosseiro do Supremo a libertação da alma mais honesta deste país. Por tudo isso, mal o suportam e  muito a contragosto batem continência a ele.

Mas o ministro Moraes parece não perceber (?) essa realidade e se comporta como se os militares já preparassem as masmorras do Forte Apache para os generais cumprirem pena. Seria a Super-Piada do Ano, às vésperas do Carnaval, como se o Alto Comando estivesse de porre.

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P.S. 1
 – A imprensa amestrada está se deliciando, ao reproduzir os diálogos indiscretos e as mensagens capciosas da entourage  militar de Bolsonaro. Nenhuma novidade quanto a isso. Como dizia o filósofo norte-americano Ralph Emerson, “os liderados são uma imagem piorada do líder”. E a assessoria de Bolsonaro não escapou dessa regra.

P.S. 2 – Este é o assunto mais importante e delicado desse início de ano e vamos voltar a ele, sempre com detalhes rigorosamente verdadeiros. Aliás, como a espetaculosa operação foi chamada pela Polícia Federal de “Tempus Veritatis” (“Hora da Verdade”, em latim), Moraes deveria saber que não se deve brincar com a verdade. Se é que vocês me entendem, como dizia o jornalista Maneco Muller. (C.N.)