A Saga do Senhor Tota para criar em 1914 a Festa de Reis em Carpina. Por Flávio Chaves

Homenagem ao Mestre Marcolino do Fandango Nau Catarineta – Ilustração

Nenhuma descrição de foto disponível.   Por Flávio Chaves – Jornalista, escritor, poeta e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi delegado federal/MINC

Era o ano de 1914 quando o senhor Tota, com seu chapéu de palha e olhar perspicaz, teve uma visão que mudaria o destino da pequena Carpina. Na Praça de São José, onde o tempo parecia dançar ao ritmo da vida cotidiana, Tota deu início a uma tradição que perdura até os dias de hoje: as Festas de Santos de Reis.

Com ares de visionário, Tota convocou os moradores da cidade para celebrar a chegada dos Reis Magos de uma maneira única. A primeira festa foi um espetáculo de cultura, fé e alegria, marcando o início de uma tradição que se tornaria o coração pulsante de Carpina. Entre os nomes que deram vida a essa primeira celebração, destacam-se figuras como João da Silva, Maria José e Antônio Nunes, que se tornaram os pioneiros da festividade.

Naquela época, a Praça de São José tornou-se um verdadeiro parque de diversões a céu aberto. Rodas gigantes giravam ao ritmo das gargalhadas das crianças, enquanto o carrossel embalava sonhos e memórias. As barracas de cachorro-quente exalavam aromas irresistíveis, seduzindo os visitantes com suas delícias que, mesmo após tantos anos, continuam a ser apreciadas por gerações.

Mestre Solon, com suas mãos habilidosas, introduziu o mamulengo, invenção brasileira que encantou plateias e trouxe um toque de magia à festa. As cirandas rodopiavam ao som de músicas tradicionais, transportando os participantes para um mundo de encanto e folia. O cavalo-marinho, com suas figuras místicas e histórias contadas pelo mestre  Bio da Bóia.

Homenagem ao Mestre Solon Mamulengueiro

Em meio aos risos, uma mulher que virava macaco roubava a cena, desafiando as leis da natureza com suas acrobacias e movimentos impressionantes. As barracas de tiro ao alvo desafiavam a destreza dos visitantes, enquanto o fandango Nau Catarineta, conduzido por Seu Marcolino, elevava a festividade a um patamar de arte e tradição.

Os vendedores de alfenim , com suas habilidades comerciais e sorrisos cativantes, tornaram-se parte integrante do espetáculo. As ruas de Carpina se transformavam em um mosaico de cores, sabores e melodias, retratando a riqueza cultural e a identidade única da cidade.

Hoje, as Festas de Santos de Reis em Carpina tenta atrair moradores e visitantes, mas não conseguir por haver abandonado as autênticas tradições.  É preciso reencontrar a essência da visão de seu Tota e honrando aqueles que, em 1914, deram vida a uma tradição que transcende o tempo. A cada roda-gigante que gira e a cada acorde do fandango, Carpina celebra não apenas os Santos de Reis, mas também a resiliência e a magia de uma comunidade que soube preservar suas raízes, embora tantos gestores públicos, por maldade e sem compromisso com a história, já tenham destruído muito da das memórias da amada Carpina. Para citar apenas algumas, lembro aqui da Matriz de São José, do Matadouro Público, da Casa das Baratas e da antiga Casa da Prefeitura; onde lá funcionavam os três poderes: executivo, legislativo e judiciário. E tantas outras atitudes desgovernadas que já destruíram outras várias memórias, fruto da ignorância e da insensibilidade no trato e tato com a coisa pública.

Que a tradição perdure, como um farol iluminando o caminho das gerações futuras, conectando o passado ao presente, numa eterna dança de alegria e fé. Que todos nesse ano que se inicia sigam de mãos dadas para a mudança necessária que torne Carpina uma cidade melhor, maior e de todos os seus cidadãos e não de uma minoria.