Camila Turtelli e Bruno Góes
O Globo
Ao mesmo tempo em que comanda três ministérios na gestão de Lula, maior líder da esquerda desde a redemocratização, o União Brasil prepara um reposicionamento à direita, na tentativa de reduzir conflitos internos e encaminhar a estratégia eleitoral para 2024. O primeiro passo ocorrerá nesta segunda-feira, quando a Executiva da sigla vai se reunir para antecipar a troca na presidência. O deputado federal Luciano Bivar (PE) será substituído pelo seu vice, o advogado Antonio Rueda, ex-deputado.
A configuração do União Brasil é eclética. O partido está à frente de duas pastas na Esplanada, com Juscelino Filho (Comunicações) e Celso Sabino (Turismo), além de ter patrocinado a indicação de Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) — os três ministérios somados têm orçamento de R$ 15,6 bilhões previsto para este ano.
Por outro lado, também abriga oposicionistas ferrenhos do Palácio do Planalto, casos do senador Sergio Moro (PR) e do deputado federal Kim Kataguiri (SP). O retrato remonta à formação, já que a sigla é fruto da fusão entre DEM e PSL — aliança preocupada com o tamanho no Congresso, não com incompatibilidades ideológicas.
CONFLITOS INTERNOS – A reunião da legenda — que hoje tem a terceira maior bancada na Câmara, com 59 deputados; e a quarta do Senado, com sete parlamentares — deve começar a definir diretrizes mais claras à direita, defendendo uma política fiscal mais rígida e se posicionando contra pautas ideológicas que são bandeiras da esquerda e, em parte, do atual governo.
A troca na presidência busca ainda, segundo dirigentes, amenizar os conflitos envolvendo Bivar. Ele nega qualquer empecilho e trata a mudança como algo natural, com a ascensão de Rueda, um nome indicado por ele próprio. Oficialmente, a legenda diz que a antecipação é uma mera questão burocrática.
— Quando fizemos a fusão, montamos de forma equivocada a eleição para maio, mas resolvemos antecipar para antes da janela partidária. A reunião vai organizar esse calendário — disse Rueda.
ESTILO DEM – Entre integrantes da cúpula, há um entendimento de que o União tende a ganhar se adotar mais o estilo do antigo DEM, sigla de centro-direita que tinha unidade na cadeia de comando, e deixar de lado a herança do PSL, origem de Bivar. O novo comando deve dar mais voz a lideranças como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, alinhado à direita e citado internamente como alguém que pode se posicionar para uma candidatura presidencial em 2026.
No Congresso, ainda que as novas diretrizes empurrem uma inflexão à direita, o partido busca o apoio do governo e da esquerda em geral para os novos passos.
O senador Davi Alcolumbre (AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), articula sua candidatura à sucessão de Rodrigo Pacheco na presidência da Casa e, para isso, conta com os governistas — ele ajudou o Palácio do Planalto a conseguir votos dentro da sigla para a Reforma Tributária, por exemplo.
LUGAR À MESA – Já na Câmara, o líder da legenda, Elmar Nascimento (BA), tem reforçado os acenos ao Planalto e indicou que pode oferecer ao PT uma posição de destaque na Mesa Diretora, como mostrou O Globo.
Desde a fusão, o partido coleciona conflitos internos, como a rebelião que gerou uma debandada no Rio e a disputa, com direito xingamentos, decisões judiciais e tentativas de reuniões secretas, colocando em lados opostos o secretário-geral, ACM Neto, e Bivar.
Rueda atuou como mediador, o que o ajudou a se colocar no posto de substituto do atual presidente.