No último dia 5 de fevereiro, um dos maiores cartunistas, jornalistas e multifacetados comunicadores do País completaria 70 anos. Falecido em 1988, sua obra o mantém vivo mesmo após 25 anos, e é constantemente lembrada por todos aqueles que, de alguma forma, direta ou indireta, foram afetados pelo seu trabalho. Henrique de Souza Filho, o Henfil, segue vivo na memória daqueles que o conheceram pessoalmente, e viram muito mais do que o ativista e desenhista que o público conheceu.
“A maior importância [de seu trabalho] é essa, depois de tantos anos da morte dele ainda estarem falando, fazendo entrevistas e matérias… o Henfil é eterno”, diz o jornalista e escritor Sérgio Cabral. Além de um dos criadores do O Pasquim, Cabral era amigo íntimo do cartunista. Henfil trabalhou no periódico durante quase toda a sua carreira, e foi através dele que sua postura contra o regime militar ganhou voz.
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Em 2014, Henfil completaria 70 anos
Criador do termo “Diretas Já”, Henfil usou sua arte para tocar em diversos temas delicados da sociedade brasileira na época. “Costumam dizer que tudo é um absurdo, ‘que absurdo isso’, ‘que absurdo aquilo’, mas na prática ninguém acaba fazendo nada. E ele [Henfil] sabia como ninguém o quê que faltava pra que as pessoas saíssem daquele discurso de ‘absurdo’ pra realmente ir lutar pelo que querem e lutar por mudança”, diz Ivan Cosenza, filho do cartunista e administrador do Instituto Henfil, lembrando ainda as recentes manifestações no Brasil desde junho passado.
A obra de um artista genuíno não morre com seu criador, e continua conquistando gerações atrás de gerações que se encantam ao descobrir seu trabalho. Ivan conta que, pensando nas exposições que fez para relembrar o trabalho do pai, era notável que “mais de 90% do público tinha menos de 25 anos”, isto é, conheceram o trabalho de Henfil após sua morte. “Normalmente, quando uma obra é feita para um público específico, acontece de essa obra envelhecer junto com o público. O que eu vejo é que no trabalho dele, o que é mais impressionante, é que continua muito marcante entre o público mais jovem”, completa Ivan.
“Sua obra ainda hoje é provocadora e é difícil acreditar que ele a tenha construído dentro de limites tão castradores”, relembra o jornalista Tárik de Souza. Não apenas colega de redação de Henfil, Tárik foi também co-criador do personagem Ubaldo, o paranoico, um dos maiores retratos do brasileiro vítima da repressão do regime militar. “A importância de seu trabalho reside no fato dele ter conseguido conciliar a alta qualidade dos textos e desenhos, contundência política com um largo alcance popular”, continua o jornalista.
Como pessoa, as qualidades e o caráter de Henfil saltavam rapidamente à vista. Cabral trabalhou durante anos com ele, e ainda se sente comovido ao falar do “querido amigo”. “Trabalhar com ele foi ótimo, sempre muito bem-humorado, brincava muito. A maior lembrança é essa, pessoal. Depois vem a lembrança de um grande brasileiro, grande artista. Sabia unir talento e irreverência com muita propriedade, um craque”, diz.
“Foi alguém raro, capaz de preocupar-se, de fato, com os outros. Seguia um código ético rigoroso e não fazia concessões. Recusou-se a vender seus personagens para a publicidade, por exemplo, o que o teria tornado rico”, lembra Tárik de Souza, que destaca ainda como se impressionava ao ver a capacidade de Henfil de trabalhar em diferentes frentes e a dedicação incessante ao trabalho.
Como parte das comemorações dos 70 anos do artista, uma parceria entre a ONG Henfil e o Instituto Henfil está viabilizando a reedição das 31 revistas Fradim, publicadas por Henfil entre os anos de 1971 e 1980. Os primeiros títulos ficaram prontos em setembro passado, e mais de uma dezena está à venda exclusivamente pela internet. A coleção deve estar completa até o fim do semestre. Além disso, o lançamento de histórias inéditas do Sapo Ivan, personagem inspirado em seu único filho, também estão na agenda de comemorações para este ano.