Por Flávio Chaves
Eu conheço a obra poética do desembargador e poeta Josué Sena, mas jamais imaginaria que o mesmo se debruçasse sobre o papel em branco para escrever sobre a minha amada Carpina , chão de meu mundo criança, adolescência e juventude. Deste modo, ao receber esse texto enviado por ele, confesso que vivi um misto de surpresa e emoção. Pois se tratava de algo que mexeu com minhas artérias, sangue e coração; se tratava de um canto que o poeta escreveu para a minha terra e de minha família. Confesso que me lembrei de imediato do grande Joaquim Nabuco, quando o mesmo disse que: ” lembrar do engenho Massangana era o mesmo que sentir o arrocho do berço”. Assim me senti ao ler o poema Carpina.
Neste presente, sobre nosso torrão, que ganhamos do desembargador e poeta Josué Sena, encontramos fragmentos do nosso cotidiano e muito mais que isso a queixa do que se perdeu do passado. Fala com maestria ao descrever cada verso e estrofe trazendo uma referência do que foi Carpina e se perdeu, pela indiferença com o cuidado que se deveria ter tido com o patrimônio cultural e artístico, foi portanto um novo jeito de observar o que estava ali no passado feito com ternura e hoje nada mais está e nem resta. Talvez como dizia Carlos Drummond de Andrade: “… Não passa de um retrato na parede”, dos que ainda sentem muito amor pela história de: ” A geografia plana, privilegiada./ Pergunto pelo antigo trem…”. Até o clima não está mais ameno.
O interessante é que a poesia aqui em foco parece uma fotografia com fraturas expostas com a dor do que se perdeu como o Santa Cruz Futebol, Colonial Esporte Clube, a perda da ferrovia com a Estação Ferroviária ao relento e abandono, o busto de Estácio Coimbra, o abandono do Instituto Histórico e Geográfico, enfim tudo destruído em diversas formas. A mistura disso tudo deixa uma tristeza muito grande. Verdadeira nostalgia. Profundo sintoma de melancolia pela falta de referência do que foi ontem, e que hoje só povoa a memória do coração.
Confesso que, em alguns pontos do poema eu sofri, e não foram raros os momentos que quase choro. Senti uma lágrima muito particular quando toda a Carpina de minha infância desfilou por dentro de mim. Sinto também a falta do apito do trem e o barulho da Maria Fumaça. Foi um olhar e um sentimento nessa trilha percorrida com o poema Carpina.
O percurso é válido para todos os amantes do Carpina. Porque serve para despertar todo carpinense que é chegada a hora de darmos as mãos, para seguir um novo tempo em busca do desenvolvimento e empreendedorismo, para que o progresso aconteça.
Vamos em frente por amor a Carpina.
Josué Sena – Desembargador e poeta
Carpina
Josué Sena – Desembargador e poeta
Da gentil cidade de Carpina,
Prezado Flávio, ainda resta
A densa, atlântica, floresta?
Dos esculturais leões, qual é a sina?
Saúdo o clima ameno que ela tem,
A geografia plana, privilegiada.
Pergunto pelo antigo trem.
Lembro a ferrovia desativada.
Carpina, de ofício madeireiro.
O piedoso, o virtuoso São José,
O humilde santo carpinteiro,
Expoente da bondade e da fé,
Afirmo ser, quase certo de que é,
O merecido e festejado padroeiro.
Josué Sena – Desembargador e poeta
Bandeira de Carpina