FUTEBOL FEMININO: VENCEDORAS. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

O renomado cronista esportivo pernambucano, Aderval Barros, costuma postar, nas redes sociais, registros de sua exitosa carreira profissional, com a seguinte frase: “Feliz quem tem história para contar”. Verdade. Pego carona no seu pensamento e acrescento: “Feliz aquele que é testemunha da história”.

Amanhã começam as disputas da Copa do Mundo de Futebol Feminino da Austrália e Nova Zelândia. A Seleção Brasileira, que já foi protagonista numa disputa de título, mais uma vez, chega no torneio credenciada para ser uma das finalistas.

Pertenço a uma privilegiada geração de brasileiros que, testemunhou o surgimento e o crescimento desta prática esportiva no País do Futebol. Tudo poderia ser simplificado numa única frase: Agonia e êxtase! Como se fosse o título de um filme, ou de um livro, que narrasse uma história de luta, insistência, persistência, perseverança para vencer preconceitos, quebrar barreiras e superar a resistência de um, aparentemente intransponível, universo machista.

Acompanho os noticiários do Mundial Feminino pelo rádio, televisão, edições on-line dos jornais, revistas, e é inevitável constatar a viagem da alma, que anda para trás, até chegar o final dos anos 70 e início dos anos 80, no século passado.

As lembranças se detêm ao trabalho dos abnegados, e abnegadas, que encamparam uma cruzada em busca de espaço no futebol pernambucano. Não foi fácil colocar sementes em solo tão árido. Mas surgiu a primeira flor do deserto de nome – Maria Edilene – na arbitragem pernambucana. Uma quebra se paradigma no mundo dos machões. As equipes de esportes das rádios, jornais e televisão começaram a ser marcadas pela presença feminina. Eram sinais de que a resistência estava sendo vencida. Mas o futebol feminino seguia sobrevivendo como subproduto.

Os grandes clubes recifenses – Sport, Náutico e Santa Cruz – abriram suas portas para entrar em sintonia com uma realidade incontestável. Entretanto, tudo era muito amador, insipiente. Não havia boa vontade dos dirigentes. CBF e Federações pouco se lixavam para o que não tinha mais volta. As rádios, que sempre tiveram voz altiva no futebol, desconheciam, por completo, as ações das equipes de resistência que lutavam pela implantação do futebol feminino no Estado.

Em 1991 a FIFA realizou a primeira edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino, tendo a China como sede do evento. Um evento tão marcante quanto a Tomada da Bastilha na Revolução Francesa. Era o início de um novo tempo para o universo feminino.

A chegada do Século XXI trouxe consigo a dinâmica da internet. Tudo passou a girar em nova rotação, inclusive o crescimento do futebol feminino, que passou a ter visibilidade, com as conquistas do ouro do Panamericano nas edições de 2003 e 2007, sendo esta, no Rio de Janeiro, fato que contribuiu de forma efetiva para colocar as meninas na vitrine. A Seleção Brasileira conquistou outro ouro no Pan de 2015.

Em Pernambuco, Paulo Roberto, presidente da Desportiva Vitória, clube da cidade de Vitória de Santo Antão, optou pelo futebol feminino para fazer grandes investimentos, e por conseguinte, dar visibilidade ao time e a cidade. Importou do Santos, o ex-presidente, Modesto Roma, e o supervisor, Paulo Maieda. O projeto implantado apresentou excelente resposta, mas os grandes clubes recifenses não acompanharam a trajetória da equipe da Terra da Pitú.

O que falta ao futebol feminino é visibilidade.

As coisas acontecem, mas o grande público não ver, não ouve, não participa deste carnaval.

Nos últimos anos, a televisão passou a expor mais a presença feminina no futebol. Comentaristas, narradoras, repórteres… Apresentação de jogos, campeonatos, mas ainda não atingiu o objetivo de massificar o futebol feminino.

O Brasil conhece Marta, Formiga, Cristiane… Contudo, poucos sabem quais as jogadoras convocadas por Pia Sundhage para tentar o título na Austrália.

Por tudo que testemunhei nesta história de dramas e superações, seja lá qual for a posição da Seleção Brasileira no final desta edição de Copa do Mundo, digo sempre que as meninas são VENCEDORAS.

Vale ressaltar que: Marta foi eleita a melhor jogadora do mundo seis vezes, feito que nenhum craque masculino conseguiu; Cristiane é a maior artilheira numa Copa, superando todos os goleadores masculinos, e Pia Sundhage é uma treinadora estrangeira no banco brasileiro, coisa que nunca aconteceu com o escrete masculino.

Portanto, nunca duvide do empoderamento feminino no futebol.