Apuração dirá quem sabia o quê e quem levou quanto na fraude da Americanas

Loja da varejista Americanas no Rio de Janeiro

Fraude nas Lonas Americanas é fruto da impunidade geral

Elio Gaspari
Folha/O Globo

Depois de examinar as contas da rede varejista Americanas, os três grandes acionistas da empresa dispuseram-se a colocar R$ 7 bilhões no negócio. Os credores acharam pouco. (Dias antes a oferta estava em R$ 6 bilhões.)

Bilhão para cá, bilhão para lá, é provável que a Americanas sobreviva, encolhendo. Ela sairia do mercado de vendas eletrônicas e voltaria a ser uma simples rede de lojas, onde o freguês entra, pega a mercadoria, paga e vai embora.

FRAUDE DURADOURA – A Americanas foi depenada numa fraude duradoura. As investigações dirão quem sabia o quê e quem levou quanto. O mercado sempre soube que a Americanas espremia os fornecedores espichando por meses os pagamentos.

Nos últimos dez anos, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, os grandes acionistas, receberam R$ 500 milhões em dividendos e investiram R$ 1,5 bilhão sob a forma de aumentos de capital. Nenhum dos três vendeu ações da Americanas.

Nesse mesmo período, os executivos da empresa receberam, só de bônus por desempenho, R$ 700 milhões. (Que desempenho? Se a ideia era cortar custos porque, como as unhas, eles sempre crescem, agora estão querendo arrancar as unhas alheias.)

VENDERAM AÇÕES – Entre agosto e setembro, quando se tornou público que a Americanas seria dirigida por Sergio Rial, um executivo vindo do banco Santander, diretores da empresa venderam R$ 244,3 milhões em ações. No final de 2022 a Americanas capotou, indo do lucro para o prejuízo. Nos últimos dez anos os bancos foram felizes parceiros da Americanas e, em operações de crédito legítimas, ganharam algo como R$ 20 bilhões.

Como disse Carlos Alberto Sicupira numa palestra energizadora para papeleiros: “O Brasil não será Estados Unidos. Porque o Brasil é o país do coitadinho, do direito sem obrigação e é o país da impunidade. Isso é cultural. Não vai mudar.”

Essa frase ecoa o príncipe de Salinas do romance “O Leopardo”, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, explicando a grandeza e decadência da Sicília. Com um rombo estimado de R$ 40 bilhões, o caso da Americanas tem coitadinhos demais. Cada um exerceu seus direitos. Resta agora saber se a Comissão de Valores Mobiliários lhes mostrará o tamanho de suas obrigações e responsabilidades.