Por Antonio Campos*
Estamos em tempos de resistência num mundo em transição, marcado por uma guerra que completa quase um ano e que repercute no mundo todo, após uma grave pandemia.
O Brasil é maior que a crise que atravessamos e temos que buscar inspiração naqueles que lutaram e fizeram deste país uma nação, cujo projeto precisa ainda ser completado.
Arraes lutou pela Transnordestina, que irá integrar o Nordeste. Não, a que infelizmente está aí e precisa ser reformulada. Pediu ao Presidente Lula, no passado, que resgatasse o sonho de Dom Pedro II, personagem que a história redescobriu. Esse cenário se apresenta de novo, precisando um novo traçado que preserve Pernambuco.
Foi iniciativa de Arraes, ainda durante o governo de Fernando Henrique, que a Transposição do Rio São Francisco tivesse também o eixo leste, que beneficia Pernambuco e mais estados, tornando mais abrangente essa obra. Ele também foi figura central para evitar, noutro momento, a privatização da Chesf e do Rio São Francisco, como também da Eletrobrás, cuja privatização merece ser revisada ou ser modificada a forma de participação da União, nas votações, no formato feito na privatização. Arraes tinha noção e visão estratégica do Nordeste e do Brasil. A vitória nessa luta está na capacidade de nossa luta, em torno de assuntos relevantes, como é o caso da Transnordestina, da Transposição do Rio São Francisco, da Eletrobrás e da Chesf, entre outros.
Mais do que um déficit público, temos uma imensa dívida social, que precisa ser paga. Discriminar Pernambuco no traçado da Transnordestina é aumentar as desigualdades regionais de forma perversa e enfraquecer o pacto federativo.
Foi aqui, nessa região, que Canudos não se rendeu. Talvez o episódio mais emblemático da nossa história. Imortalizado através da literatura de Euclides da Cunha, de Vargas Llosa e dos cantadores populares do Nordeste que a cantaram em prosa e versos.
O traçado da Transnordestina não pode relegar Pernambuco. Os pernambucanos e a sua bancada política têm que lutar para essa inclusão, pois é algo estratégico integrar Salgueiro até Suape.
Além da pressão política da bancada de Pernambuco, o Governo do Estado deveria provocar o pronunciamento do Tribunal de Contas da União nessa discussão, que já proferiu importantes decisões nesse assunto. Ora, o aditivo assinado pela CSN e a ANTT, que retira Pernambuco, pode ser questionado naquele Tribunal, por diversas razões jurídicas e constitucionais, o que certamente fortaleceria a discussão técnica e política.
*Advogado, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras