O dia ‘D’ Monga

Por Bruno Trigueiro*

Assistir ao espetáculo de Monga produzia duas coisas na gente: sensação e tensão. Entrei no ‘anfiteatro’ de Monga aos 10 anos para ver uma linda bailarina, que dançava ao som de músicas sensuais.

Era divertido, até a bela mulher ficar estática e entrar numa metamorfose. O clima ficava tenso. Silenciavam a música e acendiam o jogo de luzes. Pronto, aparecia Monga numa jaula.

Fugíamos aos gritos enquanto Monga quebrava tudo levando pavor ao público. Aquilo virava um alçapão das artes cênicas do riso e dos nervos. Tudo muito bem caracterizado para os moldes da época. Era a ‘superprodução’ dos bons e velhos parques de diversões de subúrbio, da década de 80.

O espetáculo tinha um enredo marcante: “Monga, a mulher que se transforma num incrível gorila diante dos seus olhos”, dizia o locutor. Parte das pessoas que compunham a base da pirâmide social vibrava com a apresentação de Monga, e torcia num misto de ternura e reverência.

Outra parte do público precisava escapar, mas as paredes metálicas do mini-teatro estavam apinhadas de fios desencapados com correntes elétricas. Enquanto Monga corria atrás da gente, a produção do show promovia choques modulados. Tudo muito bem pensado pra gerar o clima. Nunca vi nada tão imersivo e subversivo.

O conto de Monga me fez lembrar os ataques à Democracia, ocorridos no último dia 8 em Brasília. O Dia ‘D’ Monga. Aquilo foi uma caricatura republicana gerida aos moldes de Monga, com direito à violação da pauta dos agressores.

Caracterizou a descaracterização das bandeiras partidárias dos próprios guetos políticos. Foi um dia memorável. Assim como “Monga, a mulher que se transforma num incrível gorila diante dos seus olhos”, segundo o locutor.