RIO — Alvo de crescentes protestos que pedem a sua renúncia, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), está com o prestígio em baixa junto à opinião pública. De acordo com pesquisa encomendada pela rede de campanhas globais Avaaz ao Ibope, que ouviu mil pessoas entre os dias 3 e 4 de março, 74% dos brasileiros gostariam que o Senado exigisse a renúncia de Calheiros da presidência do órgão, e há um grave comprometimento da imagem de quem se associa ao parlamentar: 68% dos entrevistados disseram que provavelmente não votariam em um senador caso descobrissem que ele apoia o peemedebista.
Eleito em janeiro para suceder José Sarney (PMDB-AP), Calheiros voltou ao cargo que exerceu entre fevereiro de 2005 e dezembro de 2007, quando renunciou em meio a denúncias de que teria utilizado recursos de um lobista para pagar a pensão de uma filha de fora do casamento. No mês passado, foi denunciado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao Supremo Tribunal Federal (STF) por peculato (desvio de dinheiro público, 2 a 12 anos de cadeia), falsidade ideológica (1 a 5 anos) e uso de documento falso (2 a 6 anos).
Em fevereiro, uma petição online que pedia o impeachment do senador foi entregue ao líder de cada partido da Casa com 1,6 milhão de assinaturas. Ao comentar os protestos, o senador insinuou a existência de preconceito das regiões Sul e Sudeste ao dizer que sempre que a presença de um nordestino em uma posição de destaque da república causa grande insatisfação. No entanto, o levantamento mostra que a rejeição a seu nome é geral: 75% dos entrevistados das regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste querem que ele renuncie.
Para o advogado Pedro Abramovay, diretor de campanhas da Avaaz, autora da petição, a pesquisa mostra que a insatisfação com Renan Calheiros pode criar embaraços para o governo federal.
— Essa pesquisa mostra que a onda de oposição contra Renan Calheiros está crescendo e se transformando em uma tsunami. Chegou a hora de os senadores forçarem a renúncia de Renan antes que essa enchente de indignação da opinião pública danifique ainda mais a reputação do governo e sua funcionalidade — afirma.
O levantamento comprova ainda o incômodo da população com a falta de transparência do Senado: 64% não apoiam o sistema secreto de votação para a presidência do órgão, e 56% consideram inválida a eleição porque muitos senadores se recusaram a admitir em público em quem votaram.
— A Câmara dos Deputados e o Senado Federal utilizam esse mecanismo de voto secreto, que é inconstitucional. As casas não podem utilizar votação secreta para a definição de seus presidentes, fazem isto com base no regimento, mas precisaria haver uma indicação constitucional para isto — conclui.
Fonte:O Globo