João Ubaldo Ribeiro: “Sinto um vínculo cultural com a Alemanha”

Destaque da programação brasileira na Feira de Frankfurt, escritor falou de seu livro “Viva o povo brasileiro”, da ligação com a Alemanha e da falta de tempo para escrever.

João Ubaldo Ribeiro revela que o que gosta mesmo de fazer é sentar na frente do teclado e escrever. Mas é o que menos faço ultimamente

 

João Ubaldo Ribeiro revela que o que gosta mesmo de fazer é “sentar na frente do teclado e escrever. Mas é o que menos faço ultimamente”

Não sei. Só consigo escrever, qualquer coisa que seja, dando o título primeiro. E pertenço à família de romancistas que não planeja o livro. Botei lá “Viva o povo brasileiro” e fui escrevendo. No que ia dar, devia estar no meu inconsciente. O livro começa em torno de 1820 e depois volta no tempo. Muita gente tem a impressão que escrevi na ordem normal e depois troquei as datas para fazer essa alternância entre passado e presente. Não foi assim, o livro está ali como saiu da máquina de escrever.

 

O senhor começou a carreira jornalística na década de 1950 e publicou o primeiro livro na década seguinte. Depois de tantos anos, falta motivação para continuar escrevendo?

 

Não, me falta tempo. Antigamente o escritor aparecia pouco, não era parte do processo de marketing do livro. Hoje os escritores são solicitados o tempo todo. É uma palestra para cá, uma leitura para lá, uma feira para acolá. Recebo uma chuva de e-mails com convites, e até para recusar preciso de um tempo enorme.

 

No ano passado tive que sair pelo mundo por ocasião do centenário de Jorge Amado, que era meu grande amigo. E eu não podia recusar convites. As interrupções são tão frequentes, que vários projetos de livro, pelo menos uns quatro, foram abortados. Quando tão interrompido, o romance desanda, se desarruma e você não consegue voltar a ele. Há muito tempo tenho esse problema.

 

E o senhor sente falta da presença da literatura na sua vida?

 

Sinto. Sou escritor, quero escrever. Não sou falador, orador, palestrante. Costumo brincar que minha obra futura será constituída de e-mails, são dezenas por dia. A minha coisa é sentar na frente do teclado e escrever. Mas é o que menos faço ultimamente.

 

Por outro lado, o fato de ser tão solicitado, é um sinal de reconhecimento…

 

É verdade. Poderiam me dizer: “você queria ser esquecido?”. Não, é melhor ser lembrado. A vida é cheia de paradoxos…

 

Se tivesse tempo, escreveria mais um Viva o povo brasileiro?

 

Não, isso não se faz todo dia [risos].