“Bispo não pode ser príncipe num reino, deve sofrer e andar com o povo”, diz o Papa

Trump parabeniza papa Leão XIV, o primeiro papa norte-americano

Leão XIV foi missionário no Peru e sabe falar português

José Maria Tomazela
Estadão

Primeiro papa americano e peruano da história, adotando o nome de Leão XIV, Robert Francis Prevost é visto como próximo do antecessor Francisco e assume a Igreja Católica em um contexto de tensões crescentes no mundo, principalmente por causa das guerras na Ucrânia e em Gaza.

Não à toa, suas primeiras palavras aos fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano, nesta quinta-feira, 8, foram um “apelo à paz”. Ele também fez questão de saudar sua “querida diocese de Chiclayo”, no Peru, em espanhol.

FORÇA POLÍTICA – Para o sociólogo e especialista em religiões Francisco Borba Ribeiro Neto, ex-coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a eleição do norte-americano com nacionalidade peruana para o posto máximo da Igreja Católica é uma escolha que derruba críticas.

“Um norte-americano, de um país onde Francisco teve muita oposição, mas ligado aos pobres, então ligado à visão eclesial de Francisco. Uma escolha com uma força política chocante. Ainda que eu acredite que o problema não é político, esse é o gesto político mais chocante da Igreja em toda a minha vida. A Santa Sé afirma que quer estar em continuidade com Francisco, mas próxima dos Estados Unidos, de onde saíram as maiores críticas ao papa – tudo sem abrir mão do que considera a essência do cristianismo.”

PAPA DE CONTINUIDADE – O especialista vê Leão XIV como um papa de continuidade, mas que é jovem – ele tem 69 anos. “Isso sinaliza que os cardeais não imaginam que os processos iniciados por Francisco irão ter um desfecho rápido. Podemos esperar ainda um longo tempo de mudanças e ajustes no modo de ser da Igreja, sempre norteados por uma postura de acolhida cheia de afeto aos que mais sofrem – esta acolhida é uma das mensagens mais significativas de seu discurso inaugural. Além disso, repetiu à exaustão o chamado para a paz e a ênfase no amor de Deus por cada um de nós – marcas também da espiritualidade do Papa Francisco.”

Borba Neto avalia de forma positiva ser um papa norte-americano. “Sim, sem dúvida, alegrem-se e orgulhem-se católicos norte-americanos. Porém, é também um missionário, que viveu muito tempo no Peru. Os missionários como ele têm uma curiosa característica, não são mais totalmente de seu país natal, nem de sua terra de missão. São gente do ‘povo de Deus’, homens e mulheres sem pátria, porque o mundo dos últimos é a sua pátria neste mundo… Esta foi a opção dos cardeais: um homem cuja pátria é o mundo dos últimos, para continuar o caminho de Francisco, que sempre desejou uma Igreja voltada para os últimos.”