
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) chega aos 20 anos em 2025 como uma das principais referências na luta pelos direitos dos povos originários. Criada durante o segundo Acampamento Terra Livre (ATL), evento que ocorre anualmente em abril, a entidade surgiu da necessidade de uma representação nacional legítima e plural. Ao longo de duas décadas, tornou-se peça-chave na articulação entre as diversas etnias indígenas do país, promovendo unidade em torno de pautas históricas como a demarcação de terras e a participação nas decisões do Estado.
Às vésperas do Dia dos Povos Indígenas, lideranças que participaram da fundação da Apib relembraram os caminhos percorridos até sua criação. Jecinaldo Barbosa Cabral, do povo sateré-mawé, e Francisco Avelino Batista, o Chico Preto, do povo Apuriña, ressaltaram que o surgimento da entidade é fruto de um longo processo iniciado na década de 1970, em plena ditadura militar, quando os indígenas ainda enfrentavam repressão e invisibilidade. Com a redemocratização e a Constituição de 1988, novas possibilidades de organização começaram a se consolidar. As informações são da Agência Brasil.
A criação da Apib, em 2005, marcou a retomada de uma representação nacional indígena, após um período de desarticulação no início dos anos 2000. Segundo Jecinaldo, o ATL foi decisivo para esse novo fôlego. A primeira edição do acampamento, em 2004, reuniu 80 pessoas em Brasília. O grupo concluiu que era necessário criar uma nova instância, mas com um formato diferente: horizontal, colegiado e representativo das cinco grandes regiões do país.
Francisco relembra que experiências anteriores, como a União das Nações Indígenas (Uni) e o Capoib, foram importantes referências. Embora essas entidades não tenham resistido ao tempo, elas ajudaram a formar lideranças e fortaleceram a base para o surgimento da Apib. “Mesmo com dificuldades, já articulávamos regionalmente. Depois, passamos a nos organizar nacionalmente, até criar a Apib com força suficiente para representar todos nós”, afirmou.
Ao longo de seus 20 anos, a Apib participou de conquistas significativas, como a criação do Ministério dos Povos Indígenas, da Secretaria de Saúde Indígena e a presença de lideranças indígenas no comando da Funai. Ainda assim, os desafios permanecem. “Não garantimos plenamente o direito às nossas terras tradicionais. Os entraves continuam no Congresso, onde temos pouca representatividade”, disse Francisco, alertando para os riscos que ainda cercam os direitos indígenas.
Apesar disso, o futuro da Apib é visto com otimismo. O 21º ATL, realizado na última semana, reuniu milhares de indígenas de mais de 130 etnias em Brasília. Em carta divulgada ao fim do encontro, os participantes reafirmaram o compromisso com a luta coletiva. “A Apib tem força. Está em constante construção, mas as bases a sustentam. Basta que os que estejam à frente respeitem esses fundamentos”, concluiu Jecinaldo.