Por CLAUDEMIR GOMES – A dois dias do início do Campeonato Pernambucano de Futebol Série A-1, o debate no endereço eletrônico (Whatsapp) da Associação dos Cronistas Desportivos de Pernambuco – ACDP – teve como mote o PROTOCOLO DE IMPRENSA divulgado pela Federação Pernambucana de Futebol a ser cumprido durante a competição cuja primeira rodada está programada para este final de semana.
O protocolo, que provocou uma discussão sobre o sexo dos anjos, onde não se chega a um denominador comum, deixa ressaltado duas coisas: a tirania, marca registrada da atual gestão do futebol pernambucano, e a fraqueza da entidade de classe que há muito vem sendo desrespeitada por clubes e federação.
Cronista Esportivo não é uma profissão. Isto é fato. O desporto é uma vertente a ser seguida pelo jornalista, e pelo radialista, assim como é a economia, a política… A ACDP se fortaleceria se contasse com o respaldo dos Sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas, o que na prática não acontece.
Quem sempre esteve atento aos sinais não se surpreende com a nova ordem. A criação das assessorias de imprensa nos clubes tinha como objetivo maior, dinamizar a divulgação dos fatos e fortalecer o canal de convivência com os profissionais que cobrem o dia a dia. Entretanto, com o passar do tempo, os profissionais tiveram seus espaços tolhidos com a proibição de fazer a cobertura de treinos. A assessoria envia para as equipes esportivas das emissoras de rádio e dos jornais, as entrevistas prontas.
Pior do que ouvir apenas o que os clubes querem que seja divulgado, é o silêncio dos diretores das rádios, dos jornais e de profissionais cujos “gritos” reverberam e ecoam. Mas nos dias de hoje todos viraram vacas de presépio.
Os mais antigos – Lenivaldo Aragão, Hélio Macedo, Pedro Silva, Paulo Morais, Amaury Veloso, Geraldo Freire, Walter Spencer – eu me incluo nesse pelotão, recordam da histórica assembleia da ACDP, nos anos 70, para uma tomada de posição sobre uma paralização total e irrestrita de cobertura. Todos os editores e chefes de equipes se fizeram presentes. As duas salas da entidade, e os corredores do sétimo andar do edifício onde era o domicílio da associação estavam lotados. Francisco José, na condição de presidente da entidade de classe, foi o protagonista de um episódio que ressaltou a gigantesca força da classe na época.
Desde que a Internet passou a ser de domínio público, com a chegada da telefonia móvel, o surgimento das redes sociais, a comunicação digital, o rádio esportivo perdeu sua força, uma vez que suas raízes eram a rádio AM. A imprensa escrita definhou com a comunicação ganhando um novo perfil.
As grandes grifes, que as vezes se tornavam maiores que os prefixos, saíram de cena e as novas gerações não dormem com os ouvidos grudados nos rádios de pilhas, estão com os olhos fixos nos smartfones, onde acompanham os jogos, em tempo real, estejam onde estiverem.
O processo de mudança é permanente. Nem tudo é positivo, mas a ACDP não soube dar seu grito de alerta. A passividade das empresas de comunicação facilitou a imposição de um modelo perverso. Mas não existe revolução sem vítimas.
Quem vivenciou os grandes momentos de tempos passados, deve se acostumar ao futebol de poltrona. Em tempo de PernambucanoBet, conseguir se credenciar para um jogo é tão difícil quanto acertar os seis números da mega sena da virada.