O povo merece mais do que sobreviver em meio à miséria e à desigualdade. Não basta sobreviver, é preciso viver.
Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc
Quando analisamos o aumento de R$ 106,00 no salário mínimo, é inevitável pensar no abismo entre o discurso político e a realidade. Muitos defendem que qualquer aumento é positivo, mas a verdade é que um acréscimo tão pequeno nem sequer acompanha o ritmo da inflação, muito menos cobre os custos crescentes de alimentação, moradia, transporte e saúde. Isso significa que, na prática, o poder de compra do trabalhador não aumenta, mas diminui, deixando milhões ainda mais vulneráveis.
De acordo com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo necessário para atender às necessidades básicas de uma família brasileira deveria ser próximo de R$ 6.000,00 em 2024. O contraste com o valor atual é um reflexo gritante da desconexão entre as elites políticas e a realidade da maioria da população.
Enquanto economistas e analistas técnicos discutem o impacto fiscal desse reajuste, milhões de brasileiros vivem sem limite de sobrevivência. Nas comunidades urbanas, as famílias precisam escolher entre pagar contas ou colocar comida na mesa. Já nas zonas rurais, onde o salário mínimo é frequentemente a única referência de renda, o aumento é insuficiente até mesmo para adquirir uma cesta básica.
Essa situação perpetua um ciclo de miséria. Em vez de proporcionar condições dignas, o reajuste acaba reforçando a sensação de abandono. Para muitos, o salário mínimo é a única fonte de sustento, e sua insuficiência não apenas mantém a pobreza, mas a profunda, gerando impactos que vão muito além do financeiro, afetando também a saúde mental e emocional das famílias. Essa é uma realidade que sangra.
O maior problema não é apenas o valor em si, mas uma escolha política de priorizar os interesses de uma elite já abastada. Grandes corporações continuam a receber isenções fiscais e privilégios bilionários, enquanto o trabalhador é relegado a migalhas. Essa política de manutenção de privilégios demonstra um descompromisso evidente com a justiça social.
Os governantes deveriam usar sua posição para reduzir desigualdades e melhorar a qualidade de vida da população, mas frequentemente optam por preservar o status quo. Essa indiferença reflete um modelo de governança que perpetua a exclusão social e aprofunda as disparidades econômicas.
Esse reajuste irrisório não é apenas insuficiente; ele simboliza o descaso com a dignidade humana. Famílias inteiras vivem na incerteza, incapacitados de cobrir despesas básicas ou planejadas o futuro. Para muitos, o salário mínimo deveria ser um alicerce para a construção de uma vida melhor, mas, na realidade, ele se tornou um limitador.
O impacto psicológico e social dessa situação é devastador. A falta de perspectivas gera desesperança, alimenta ciclos de pobreza e aumenta os índices de violência e abandono escolar. O que deveria ser um direito assegurado é tratado como uma concessão, colocando o trabalhador em uma posição de constante vulnerabilidade.
Diante de tanta desigualdade, é urgente que a sociedade brasileira se mobilize para exigir mudanças estruturais. Não se trata apenas de reajustar o salário mínimo, mas de criar políticas públicas que garantam condições reais de dignidade para todos os trabalhadores.
Movimentos sociais, sindicatos e organizações de base desempenham um papel crucial nessa luta, enviados por um governo mais responsável e comprometido. Além disso, as eleições são momentos decisivos para transformar a indignação em ação. A população precisa cobrar de candidatos e partidos propostas concretas e um compromisso real com a redução das desigualdades.
O aumento de R$ 106,00 no salário mínimo é um retrato da negligência estatal com a população trabalhadora. Enquanto o discurso oficial tenta celebrar o reajuste, a realidade é de fome, miséria e falta de oportunidades para milhões de brasileiros.
A luta por justiça social deve ser contínua. O povo brasileiro merece mais do que sobreviver; merece viver com dignidade, com direitos respeitados e acesso a um futuro melhor. Não podemos aceitar migalhas enquanto há recursos para transformar vidas e construir um Brasil mais justo e igualitário.
O povo brasileiro merece mais do que sobreviver em meio à miséria e à desigualdade. Não basta sobreviver, é preciso viver.