O amigo, Ildefonso Fonseca, alvirrubro dos melhores, daqueles cujo encarnado não desbota nunca, me presenteou com um vídeo da Canção de Natal, de Chico Buarque de Holanda. Uma pérola! Assim como foi o cartum do mestre Humberto Araújo. Os dois amigos usaram a arte para lembrar que estamos em tempo de reflexão. Acredito que essa seja uma das propostas do Natal: ressaltar para a humanidade a necessidade de rever conceitos e valores.
Tudo começou há mais de dois mil anos, quando Jesus de Nazaré, nascido na Palestina, criou o Cristianismo, que vende a vida eterna e tem o símbolo mais forte do planeta: a cruz. Tempos depois, precisamente 280 anos após o nascimento de Cristo, nasce na Turquia, São Nicolau de Mira, que foi canonizado pela Igreja Católica, por ter feito vários milagres. Em seguida foi adotado como padroeiro na Rússia, na Grécia e na Noruega. Inspirado em São Nicolau se criou a figura de Papai Noel – O bom velhinho – que presenteava os menos favorecidos.
Bom! Como as mudanças são permanentes e constantes, é impossível falar das metamorfoses e evoluções de todas as espécies. Apenas duas coisas parecem imutáveis: o Natal e a desigualdade social.
A extinta Varig, companhia de aviação, fez sucesso com uma peça publicitária onde destacava: “Papai Noel voando a jato pelo céu, trazendo um Natal de felicidade, e um ano novo cheio de prosperidade”. E ninguém conseguiu segurar mais o velhinho que passou a ser a figura mais midiática do planeta, um influencer que toma Coca-Cola, anda de helicóptero, visita todos os shopping Center e segue encantando as novas gerações. Enfim, “segue plantando flores onde não tem jardim”, como cantou o mestre Chico Buarque.
E o Menino Jesus não é o verdadeiro dono do Natal?
Bom! Isso é inquestionável. Mas tudo indica que, o marqueteiro que criou a cruz como símbolo maior, e foi convincente o suficiente para vender a vida eterna, tirou férias e saiu do mapa. A Igreja Católica tem uma dificuldade enorme para entrar em sintonia com o novo tempo.
Assistindo a edição do Jornal Nacional, no Dia de Natal, constatei que, em várias partes do mundo, inclusive em Israel, onde nasceu Jesus de Nazaré, a dada foi ofuscada pela guerra.
Vale lembrar que as guerras são “brincadeiras dos homens maus”. Não tem nada a ver dos brinquedos que Papai Noel faz propaganda.
Na noite de Natal – eu e Áurea Regina – paramos num sinal e contamos: três mulheres com nove crianças. O cenário nos incomodou. Fez-se o silêncio.
De imediato lembrei de outra pérola que me foi enviada pelo amigo Fábio Gondim: “Véspera de Natal”, de autoria do grande Adoniran Barbosa.
“A criançada chorando, mesa vazia, não tinha nada…”.
É isso aí!
Mesmo os que nasceram há dois mil anos atrás, como o Raul Seixas, sabem que para uns o orifício da chaminé é pequeno, Papai fica engasgado e não passa de jeito nenhum.