Bolsonaro e Lula podem decidir a eleição se não forem candidatos?

Debate na Globo: Lula e Bolsonaro não poderão tocar um no outro

Até quando Lula e Bolsonaro vão insistir na candidatura?

William Waack
Estadão

Mesmo antes do indiciamento de Jair Bolsonaro pela PF e as cirurgias recentes do presidente Lula já era evidente que a rota para as próximas eleições presidenciais seria um cenário aberto. É para ele que se caminha. Bolsonaro mantém viva a esperança de que algo como um canetaço o tornaria elegível.

Todos os operadores políticos, inclusive bolsonaristas, sabem que as chances são das mais remotas, para dizer o mínimo. Uma boa parte do que é a direita usa Bolsonaro como grife, até como franchising, perfeitamente consciente de que ele não será candidato.

OBSTÁCULOS – Lula mantém-se na típica dubiedade de “estar pronto” para ser mais uma vez candidato, mas sem pronunciá-lo claramente. Todos os operadores políticos, inclusive dentro do PT, sabem que a saúde do presidente, a avançada idade e, especialmente, seu evidente cansaço são obstáculos portentosos a uma candidatura, para dizer o mínimo.

Não se deve subestimar o peso político de cada desses personagens, mas não se pode superestimar a capacidade deles de decidir eleições estando do lado de fora do alambrado. Ironicamente, os dois enfrentam neste momento um dilema idêntico: se não sou eu o candidato, quem será então o meu candidato?

Há casos na América do Sul de líderes populistas que criaram “dinastias” políticas capazes de permanecer muito tempo no poder (Perón é o melhor exemplo). Não parece ser o caso de Lula e o PT. E nem de Bolsonaro.

HADDAD NA FITA – O nome “natural” para o petismo escalar no lugar de Lula já foi ensaiado uma vez e há evidências de que Fernando Haddad se prestaria de novo a esse papel – a grande incógnita é qual seria lá na frente a percepção do eleitorado quanto à política econômica do governo. Por enquanto não há grandes perspectivas.

A direita dispõe de vários nomes de governadores em ascensão política, mas esse é um problema. Um movimento importante que passa por chefões dos quatro grandes partidos de centro no Congresso enxerga Bolsonaro ao mesmo tempo como trunfo e estorvo na luta eleitoral.

Afirmam que é muito difícil trabalhar com ele e, ao mesmo tempo, muito difícil ganhar uma eleição contra o PT (e a máquina pública) sem ele. É enorme o risco de se cair numa situação de liderança difusa, permeada de egos políticos em combate.

FÓRMULAS VELHAS – Há algumas alterações no comportamento do eleitorado indicando que fórmulas velhas da esquerda não funcionam mais automaticamente.

Ao mesmo tempo, o fenômeno de figuras disruptivas “de direita” alcança uma projeção que lembra a de Bolsonaro em 2018, mas se consomem em si mesmas e não atingem a abrangência para carregar consigo o centro do eleitorado.

É esse centro que está em aberto.