Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Há exatos dez anos, despediu-se deste mundo o poeta que fazia do mínimo um universo vasto e do comum uma galáxia de espantos. Manoel de Barros, o poeta das miudezas, partiu, mas suas palavras — aquelas com gosto de terra, de mato, de vento — ainda vivem, pulsando na alma de quem enxerga além do imediato e do grandioso.
Manoel dizia que “as coisas que não levam a nada têm grande importância”, e assim, entre os rastros do ordinário, ele lapidava o extraordinário. Seu olhar era um portal para universos que poucos exploram, habitado por formigas, pedaços de folha, fragmentos de rio e palavras esquecidas. Para ele, o mundo miúdo era vasto e eterno, e ali cabia poesia de sobra.
Transformar a simplicidade em arte era seu ofício. Em cada verso, Manoel eternizou a beleza do insignificante, convidando-nos a desacelerar e a observar o que normalmente ignoramos. Na visão dele, a natureza e o ser humano eram um só: conectados, entranhados, sustentando-se mutuamente. A palavra, então, ganhava poder; um grão de areia tornava-se cosmo, um sapo virava herói, e o rio carregava em suas águas a profundidade da existência.
Sua poesia é uma celebração de tudo que é pequeno e aparentemente desimportante, ensinando-nos que o detalhe, quando observado com amor, é o verdadeiro fundamento do mundo. Cada verso que ele escreveu era uma ponte entre o humano e a natureza, uma lição de humildade e gratidão pelo que a vida nos oferece em formas tão variadas.
Hoje, ao completar uma década de sua partida, não dizemos adeus. Celebramos a presença constante de Manoel de Barros em nossas vidas — nos detalhes, nos silêncios, nos olhares para o chão, nas pausas para ouvir o sussurro das folhas. Sua poesia segue viva, inspirando-nos a olhar o mundo com curiosidade e ternura, a valorizar o que é pequeno e a perceber que, no fim, é o pequeno que faz a vida tão grande.
Manoel de Barros segue eterno, presente em cada beija-flor que pousa, em cada poça d’água que reflete o céu, em cada pedaço de mundo que ousamos observar com olhos de poeta.