Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Recentemente, um vídeo emocionante circulou pela internet: uma criança chora de emoção ao ver de perto o jogador Hulk, do Atlético Mineiro. A pureza da reação é tocante, mas também nos faz refletir. Por que figuras como Hulk – celebridades momentâneas, muitas vezes vazias de propósito maior – estão se tornando ídolos para as novas gerações? A cena não apenas revela uma realidade cultural, mas aponta para a profunda crise de valores que enfrentamos. Vivemos um tempo em que figuras sem conteúdo substancial conquistam um status de admiração quase irracional, preenchendo um vazio que a sociedade já não sabe como ocupar.
Essa idolatria superficial não é exclusiva do futebol. Nomes como Neymar, entre outros, e uma legião de influenciadores digitais, vêm construindo carreiras de intensa exposição, mas de pouca substância. Suas ações e estilo de vida são consumidos com voracidade, mas nada oferecem em troca para a formação moral ou inspiradora dos que os seguem. São ídolos de imagem, forjados na aparência, que promovem uma cultura de culto à vaidade, ao materialismo e à instantaneidade, sem o compromisso de deixar um legado duradouro.
Mas a ausência de ídolos verdadeiros não se limita ao campo das celebridades esportivas ou dos influenciadores digitais. Ela também marca a política, um espaço que historicamente era ocupado por figuras de visão transformadora e valores sólidos. O que resta hoje, em grande parte, são figuras que se destacam pela falta de propósito e pela busca pelo poder em benefício próprio. Onde estão os líderes como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Pedro Simon, Gregório Bezerra e tantos outros que, em diferentes épocas, representaram ideias elevadas e um desejo genuíno de transformar o país?
Os grandes políticos do passado serviam de referência e deixaram legados que continuam a inspirar. Hoje, porém, a política brasileira se vê repleta de figuras cujo compromisso com a sociedade é superficial, e que pouco contribuem para uma visão de futuro mais promissora e unida. Essa crise de liderança reflete um vazio ainda mais alarmante: a ausência de referências morais e de figuras que elevem o senso de coletividade.
A falta de figuras genuínas, tanto na cultura popular quanto na política, cria um mundo em que jovens crescem sem modelos de verdadeiro valor, sem exemplos que representem algo maior do que o sucesso imediato ou a fama efêmera. Em vez disso, a admiração é direcionada a pessoas que refletem a superficialidade e o individualismo, perpetuando uma sociedade vazia de propósito coletivo e de valores verdadeiros.
O verdadeiro ídolo é aquele que transcende a si mesmo e inspira outros a serem melhores. Ele não existe para ser adorado, mas para ser exemplo. Precisamos urgentemente resgatar essa noção de valor autêntico. Reconhecer e buscar ídolos reais, que representem princípios, ideais e ações que ultrapassem a efemeridade do presente, é o caminho para uma sociedade que possa se reerguer em sua dignidade e construir um mundo melhor. Apenas assim, a próxima geração terá a oportunidade de crescer em um ambiente que valoriza o que é nobre e inspirador.