Os medos de cada um. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

No fechamento da última rodada do Brasileiro da Série B, o narrador da Rádio Clube, Bartolomeu Fernando, bradou: “Agora vamos ver quem tem garrafa pra vender”. Sua analogia fazia referência a briga pelo acesso, que a três jogos do final do campeonato ficou restrita a cinco clubes: Santos, Novohorizontino, Mirassol, Sport e Ceará.

Obviamente as três equipes paulistas levam vantagem por somarem maior número de pontos. A última vaga, teoricamente, será a resultante do vencedor da “briga” entre os nordestinos Sport e Ceará.

Impossível mensurar o aumento do número de promessas feitas a Nossa Senhora da Conceição e ao Padre Cícero Romão. Mas o Papa Francisco, na sua mais recente homilia, mandou um recado: “Deixem os santos em paz. Eles estrão fora dessa briga”.

E no cenário onde existe mais medos do que esperanças, surgem as “verdades” de cada um, que nem sempre condiz com a verdade dos fatos.

O torcedor do Sport anda vendo chifre em cabeça de cavalo e arrancando cabelo em ovo de galinha.

“Esse narrador da Globo é do Ceará e fica secando o Sport o tempo todo”, diz exaltado o amigo leonino em mensagem do whatsapp. Em seguida recebo nova mensagem de um outro torcedor rubro-negro: “Não gosto desse goleiro: ele falha em bolas fáceis e é um chamariz de gol”. Antes de a partida com o Operário ser concluída, o telefone toca. Do outro lado, com indisfarçável irritação, mas com voz firme e pausada, o desabafo de mais um torcedor do Sport: “O time é fraco. O presidente faz uma boa gestão, entretanto, os diretores do futebol são inocentes”.

O clima da noite ficou pesado. É como se estivesse vendo Maísa Matarazzo cantar: “Meu mundo caiu”.

De Palmares, recebo a ligação de Bebel Miranda, que acabara de ver o jogo em companhia dos “Leões da Mata”, e não segurava sua aflição: “Tio! Será que vai?”.

O taxista Val, tricolor confesso, passa o tempo todo secando o Leão, abriu um sorriso, deu um trago no seu inseparável cigarro, e sentenciou: “O Sport não sobe!”.

“Deixa quieto!”, rebateu o mestre Humberto Araújo, como se quisesse avisar que o sofrimento faz parte da liturgia de todas as conquistas do Sport. Araújo, assim como todo torcedor do Sport, está aflito. Sempre que isso acontece, opta por ver o jogo no seu bar – O PURGATÓRIO – degustando uma Pitú Golden com alguma fruta da época.

Dentre os times que brigam pelo acesso, o Sport foi o único que não venceu na última rodada. Aliás, o rubro-negro é o único que acumulou duas derrotas nas últimas apresentações. Todos os outros candidatos a dar um salto para a Série A contabilizaram vitórias.

A tribo vermelha e preta está em polvorosa. Vale um trago na cannabis.

“Quem tem garrafa pra vender?”

Para com isso cidadão!

Chegou a hora da onça beber água.