Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc
Hoje, celebramos não apenas o cinema, mas a capacidade humana de transformar luz e sombra em histórias, emoções, e memórias. Lembro-me de cada sessão como se cada filme assistido ao longo dos anos fosse um recorte da minha própria história, uma coleção de emoções que só o cinema é capaz de criar.
Entrar numa sala de cinema é abrir uma porta para um mundo paralelo. Há aquele momento em que as luzes se apagam, e um silêncio respeitoso toma conta da plateia. Nesse instante, somos todos iguais: crianças, adultos, desconhecidos sentados lado a lado, prontos para uma experiência única, mas, ao mesmo tempo, universal. O cinema é uma linguagem que não exige tradução – ele fala diretamente ao coração.
Como não se lembrar dos primeiros filmes em preto e branco, onde os olhares e gestos falavam mais do que palavras? O brilho nos olhos de Charlie Chaplin, que com tão pouco diálogo, transmitia uma vastidão de sentimentos – ternura, alegria, tristeza – tudo em um só olhar. Ou aquele frio na espinha ao assistir aos primeiros filmes de suspense, onde Alfred Hitchcock soube, com maestria, prender nossa atenção e explorar nossos medos mais profundos.
E quando falamos de cinema, não falamos apenas de técnica, efeitos especiais ou roteiros bem elaborados. Falamos de encontros e despedidas, de cenas que ficaram para sempre na memória e que, muitas vezes, marcaram nossa vida de maneiras inexplicáveis. Falamos das canções que escutamos apenas uma vez, mas que nunca mais saíram da nossa cabeça, de diálogos que repetimos como se fossem mantras, de personagens que pareciam ser nossos amigos e com quem rimos e choramos sem receios.
Lembro-me também das vezes que saí de uma sala de cinema sentindo-me mudado. São aqueles filmes que carregam uma espécie de energia própria, que fazem refletir sobre a vida, sobre as relações, sobre o que é ser humano. O cinema é como um espelho que nos mostra versões de nós mesmos, que nos desafia a olhar para dentro, a sentir empatia e a viver emoções que talvez nunca tenhamos a chance de experimentar na vida real.
E hoje, no Dia do Cinema, agradecemos aos pioneiros – os irmãos Lumière, Méliès e tantos outros – que ousaram sonhar em capturar o movimento, o instante, e transformá-los em algo eterno. Graças a eles, hoje podemos viajar sem sair do lugar, podemos explorar novos mundos, culturas e visões de mundo. É graças a eles que hoje, ainda, nos sentamos diante de uma tela escura, esperando que a luz se acenda e o sonho comece.
Que o cinema continue nos encantando, nos tocando, nos inspirando, e, acima de tudo, nos lembrando de nossa humanidade compartilhada. Porque, no fundo, o cinema é isso: uma obra coletiva, feita por muitos para tocar a todos.