O Dia Nacional da Poesia é mais do que uma mera data no calendário
Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc
Hoje, 31 de outubro, celebramos o Dia Nacional da Poesia no Brasil. Uma data que nos lembra da força e da resiliência das palavras, dessas que são capazes de traduzir os sentimentos humanos, de transformar vidas e de nos transportar para mundos possíveis e impossíveis. A poesia é a arte que eleva a experiência humana, que sustenta o espírito diante das adversidades e que, como bem disse o poeta Mario Quintana, “não é o que está escrito, mas o que está para além das palavras”.
Cada verso, cada estrofe, é um refúgio, mas também uma arma. Os poetas, com sua sensibilidade, conseguem construir trincheiras nas palavras, erguer muros invisíveis contra a opressão, a injustiça e o esquecimento. Eles são, em essência, guerreiros tomados de metáforas, que resistem e ressignificam, que insistem em ver beleza onde muitos só veem dor. Nas palavras de Ferreira Gullar, “a poesia existe porque a vida não basta”. É o chamado à profundidade, à intensidade do viver, um espaço de liberdade absoluta que é, ao mesmo tempo, íntimo e universal.
Poesia é também resistência. No Brasil, com sua história marcada por lutas e conquistas sociais, a palavra poética muitas vezes se ergue como um grito de liberdade, de igualdade, como um antídoto contra o esquecimento da identidade de um povo que luta para não ser silenciado. Drummond, em seu famoso poema A Rosa do Povo, escreveu: “Lutar com palavras / é a luta mais vã. / Entanto lutamos / mal rompe a manhã”. Essa luta das palavras é, na verdade, a luta pela sobrevivência da própria humanidade, da esperança e da empatia.
O poeta é um guardião da sensibilidade, alguém que, mesmo nos dias mais sombrios, transforma sua dor em versos, sua alegria em cantos, sua indignação em gritos silenciosos que ecoam na alma de quem lê. A poesia é resiliência, sim, pois para cada página rasgada, para cada verso esquecido, há outros que florescem e se erguem como novas vozes, prontas para dar sentido ao que é indizível. Como escreveu Cora Coralina, “feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”, e isso é poesia: a transferência constante, a passagem de sentimentos de uma geração a outra, a sabedoria que se espalha e se mantém viva, resistente e necessária.
Hoje, celebramos o poder de todos os poetas e poetisas que não desistem de suas palavras, que acreditam nas imagens e nos sons que brotam do mais profundo da alma humana. Celebramos também a todos nós, leitores e amantes da poesia, que insistimos em buscar no texto um espelho para nossa própria jornada. Que este Dia Nacional da Poesia nos inspire a manter a chama da palavra viva, pois é ela quem molda, reflete e muitas vezes salva a realidade que nos cerca. Como bem disse Cecília Meireles, “liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.