Nos bastidores do governo, a ‘vingança’ contra Anielle

Uma batalha intensa tem sido travada nos bastidores do governo entre aliados da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e do agora ex-ministro dos Direitos e Humanos Silvio Almeida. Almeida foi demitido em 6 de setembro, acusado de ter importunado Anielle sexualmente.

Apoiadores da ministra sustentam que Almeida estaria por trás de uma série de denúncias contra ela feitas por entidades ligadas ao movimento negro e divulgadas na imprensa nas últimas semanas.

Militantes do movimento negro, por outro lado, negam o envolvimento de Almeida nas denúncias e dizem que as críticas à ação de Anielle no ministério se devem ao fato de que ela não os representa.

Um militante do movimento que falou ao PlatôBR sob a condição de não ter seu nome revelado observa que Anielle teria sido indicada por Janja, mulher do presidente Lula, inicialmente para o Ministério das Mulheres. Como os grupos e movimentos de mulheres a teriam rejeitado, ela teria, então, ido parar no Ministério da Igualdade Racial.

Integrantes do movimento negro afirmam respeitar a trajetória da vereadora Marielle Franco, irmã da ministra, assassinada em 2018, mas lembram que ela atuava nas áreas de moradia e diversidade. E Anielle, até a morte da irmã, nunca teria participado do movimento negro.

Entidades têm enviado cartas ao presidente Lula com críticas à gestão da ministra. Apontam, entre outros problemas, falta de planejamento e se queixam do atraso e da inexistência de consultas públicas para debater pautas consideradas importantes.

Em nota, Anielle disse que seu ministério estruturou e formulou políticas com a participação de movimentos sociais e da sociedade civil.

Entre as entidades que reclamaram da ministra estão a Coordenação Nacional de Entidade Negra, a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e os Agentes de Pastoral Negros do Brasil, que compunham a base de apoio à gestão de Silvio Almeida no Ministério dos Direitos Humanos.

Quarenta terreiros de candomblé e entidades negras e de matriz africana também enviaram carta ao presidente da República manifestando preocupação com a política do ministério para esse segmento, “desarticulando a possibilidade da retomada do que iniciamos nos governos Lula e Dilma”.

Por outro lado, 400 entidades do mesmo segmento enviaram carta em apoio a Anielle, na qual afirmam que ela estaria sendo perseguida.

No Palácio do Planalto, a ofensiva é vista com naturalidade, ao menos por enquanto. Segundo integrantes do governo, se houver algo de concreto nas denúncias, elas serão enviadas para a Controladoria Geral da União (CGU) e investigadas.