Apesar da tentação, e do esforço, não consegui ir a Ilha do Retiro, quarta-feira para assistir ao jogo do Sport com o Operário, no qual o rubro-negro pernambucano, por falta de foco, amargou uma derrota (2×1), que não foi bem digerida por sua torcida. Coisa do futebol!
Mas a noite foi marcada por um momento divino: a orquestração do já tradicional cazá, cazá, desta feita puxado pela torcedora Sandra Bertini. Estou próximo a levantar a bandeira do cinquentenário como cronista esportivo. Nesta longa estrada testemunhei momentos de grandes emoções de diversas tribos. Mas poucos foram tão profundos, e significativos, quanto aquele grito de amor, tendo a senhora Bertini como grande protagonista.
Na época de efervescência dos clubes sociais recifenses, vi o cazá, cazá ser entoado com arranjos dos maestros Nelson Ferreira, Duda, Fernando Borges e até do paulista, Érlon Chaves.
Testemunhei as homenagens feitas pela torcida rubro-negro ao Mestre de Apipucos, Gilberto Freyre, e ao grande Ariano Suassuna, gritando seus nomes junto com o cazá, cazá.
O rubro-negro Severino Victor foi um dos fundadores da orquestra Treme Terra. Ele fazia questão de ressaltar que foi o primeiro a levar o frevo para as arquibancadas dos estádios pernambucanos. Certa vez, Victor me revelou, na redação do Diário de Pernambuco, que era “indescritível”, a emoção que sentia, quando adentrava na Ilha do Retiro, a frente da Treme Terra, e a torcida leonina gritava o cazá, cazá.
Dona Sandra Bertini!
Fecho os olhos, exijo o máximo da memória, mas é impossível lembrar todas as vozes, formas e lugares onde testemunhei rubro-negros entoando o grito do cazá, cazá. Todos, sem exceção, ao seu modo, ao seu jeito, procuravam, através da marca registrada a tribo leonina, expressar alegria e emoção.
Entretanto, confesso que, nenhum alcançou o estágio de sublimação como aquele momento, minutos antes de a bola rolar na Ilha do Retiro, quando fostes protagonista ao reger um coro de mais de vinte e seis mil torcedores, no mais inesquecível e emocionante de todos os cazá, cazá, já entoados no estádio rubro-negro.
Não foi um grito de guerra!
Foi um brado que descortinou o mais puro amor. A paixão de uma mulher que já esteve na iminência de ser a primeira dama do clube. Um grito que quebrou paradigmas, enterrou preconceitos.
Não estava presente ao estádio. Vi as imagens daquele momento sublime, pela primeira vez, através do smartphone. Emocionante! Transferi o vídeo para o computador. Por fim, cheguei à conclusão de que, aquelas imagens eram coisas de cinema, e as transportei para a televisão.
Enganam-se os que pensam que não se pode orquestrar uma explosão de emoção coletiva. Sandra Bertini provou que é possível sim. A maestrina utilizou o corpo e a alma para interagir com os 26.345 leoninos presentes no estádio. E todos atenderam o seu chamado. Assisti ao vídeo inúmeras vezes. A cada visão, uma nova descoberta.
Aquele silêncio sepulcral, em fração de segundos, num estádio com mais de vinte e seis mil torcedores, dava para ouvir o bater de asas dos pirilampos encandeados pelos novos refletores da Ilha do Retiro. E veio a explosão com a voz forte e imperativa da maestrina Sandra Bertini: “E para sempre será!”.
Naquele momento todos entenderam porque o “Sport estremece a terra”.
Sandra!
Você colocou efeitos especiais num presente dos céus: seu amor pelo Sport.