Servidores convocam manifestação contra a criação do “IBGE paralelo”

Servidores do IBGE falam em “risco institucional” sob Pochmann

Pochmann mudou de peruca, mas não mudou de ideia

Leonardo Viecel
Folha

A criação de uma fundação pública de direito privado, a IBGE+, é considerada ponto central da crise no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Servidores dizem que a gestão do economista Marcio Pochmann, presidente do órgão de estatística, não ouviu o quadro técnico para elaboração do projeto, chamado por alguns de “IBGE paralelo”.

Ainda há dúvidas sobre as tarefas que podem ser desenvolvidas pela nova fundação. O estatuto da IBGE+ prevê, por exemplo, a possibilidade de parcerias, acordos, contratos e convênios com órgãos públicos ou privados, nacionais ou estrangeiros. Também cita, entre outros objetivos, dar apoio e incentivo à pesquisa estatística e geográfica, ao ensino e à disseminação de informações.

PRIVATIZAÇÃO – “O risco que preocupa mais, no longo prazo, é em relação à privatização. Você cria uma fundação que pode arrecadar junto ao setor privado, pode vender pesquisa para o setor privado. Isso preocupa bastante”, afirma Bruno Perez, diretor da Assibge, associação sindical que representa os servidores.

“Ainda que supostamente essa não seja a intenção do atual presidente, se criou um instrumento que pode ser utilizado em gestões futuras”, completa.

A Assibge também indicou que a medida abre espaço para contratações no modelo da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). O estatuto da IBGE+ prevê formação de conselho curador, conselho fiscal e diretoria executiva. “Ela reestrutura, de certa forma, a estrutura de poder do IBGE, porque cria novos cargos de livre nomeação”, diz Perez.

MANIFESTAÇÃO – O sindicato marcou para esta quinta-feira (26), no Rio de Janeiro, um protesto contra o que chamou de “medidas autoritárias” de Pochmann. A criação da IBGE+ faz parte dessa lista, que também inclui mudanças no regime de trabalho do instituto e transferência de funcionários para um prédio do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) no Horto, zona sul do Rio. O endereço é considerado de difícil acesso via transporte público.

De acordo com fontes que acompanham o instituto, o momento é de elevada tensão entre o corpo técnico e a gestão da casa.

“O que realmente assustou os ibgeanos foi a criação dessa Fundação IBGE+, sem nenhuma avaliação do que ela significa, dos riscos que ela significa ou mesmo do potencial que ela significa. Assim, do nada, agora já existe essa fundação”, afirma Wasmália Bivar, que foi presidente do IBGE de 2011 a 2016.

POCHMANN REBATE – A gestão Pochmann rompeu silêncio nesta segunda (23) por meio de nota publicada na agência de notícias do órgão. O texto, assinado pelo economista, defende medidas como a IBGE+.

A manifestação fala em uma “sustentação” do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o reconhecimento do IBGE como instituição de ciência e tecnologia. Também afirma que o Ministério do Planejamento e Orçamento aprovou a constituição legal da nova fundação.

“Recentemente foi apresentado para o Conselho Diretor do IBGE o Estatuto da Fundação IBGE+, bem como a estrutura do seu Conselho Fiscal e Conselho Curador, esse último com previsão de processo de votação interna para um(a) representante dos servidores da instituição”, diz a presidência do IBGE.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Pochmann arranjou uma crise grave e agora terá de enfrentá-la. A ministra Simone Tebet não moverá uma palha em favor dele. Pochmann foi nomeado por Lula sem comunicação à ministra, que vestiu uma saia justa. Ele se declara fá das estatísticas chinesas, consideradas as mais manipuladas do mundo. E não é preciso dizer mais nada… (C,N.)