CURIOSIDADE
Nas ruas sinuosas e vibrantes de Istambul, a maior cidade da Turquia, localizada entre a Europa e a Ásia, uma profissão peculiar resiste na memória cultural da cidade: os carregadores de bêbados. Em uma cidade onde tradição e modernidade se entrelaçam, esses “heróis da noite” desempenharam um papel essencial no passado, cuidando daqueles que, após um longo dia de trabalho ou uma noite de celebração, encontravam-se incapazes de retornar às suas casas sozinhos.
Os carregadores de bêbados, conhecidos localmente como “Sarho? Ta??y?c?lar?”, surgiram durante o período otomano, uma época em que os bares e tavernas de Istambul fervilhavam de vida. Nessas noites intensas, onde o consumo de álcool corria solto, era comum que muitos bebessem além da conta. Nesse contexto, os carregadores passaram a ser indispensáveis, garantindo que os cidadãos chegassem em segurança às suas casas, mesmo que não estivessem em condições de fazê-lo por si próprios.
Esses profissionais eram, geralmente, homens fortes e robustos, que patrulhavam as ruas à noite, atentos às necessidades daqueles que perderam o controle de seus próprios passos. Munidos de grandes cestas de vime, que carregavam nas costas, eles encontravam os bêbados nas portas das tavernas ou jogados em alguma esquina, prestes a adormecer ao relento. Colocavam-nos nas cestas e os levavam de volta para casa, cobrando uma taxa pelo serviço.
No entanto, com a modernização de Istambul e a evolução dos serviços de transporte e segurança, a prática dos carregadores de bêbados tornou-se cada vez mais rara. Hoje, em 2024, é improvável que essa profissão ainda exista de forma significativa. A cidade agora conta com uma ampla rede de transporte público, serviços de táxi e aplicativos de transporte, que oferecem alternativas mais seguras e convenientes para aqueles que precisam retornar para casa após uma noite de festa.
Ainda que a tradição dos carregadores de bêbados faça parte do folclore local e seja lembrada como uma curiosidade histórica, ela sobrevive mais como uma memória cultural do que como uma realidade presente. Se ainda houver vestígios dessa prática, provavelmente eles seriam encontrados em bairros muito específicos e tradicionais, mas certamente não são mais uma parte comum da vida noturna de Istambul.
Istambul, por ser a única cidade no mundo a se estender por dois continentes, é um verdadeiro mosaico cultural e histórico. Os carregadores de bêbados, embora raros ou inexistentes nos dias de hoje, simbolizam uma resiliência cultural que é característica da cidade. Eles representam uma profissão que, embora pouco convencional, esteve profundamente enraizada na história de Istambul.
A existência passada desses profissionais também traz à tona reflexões sobre os laços comunitários e a forma como as cidades e suas populações evoluem. Em um mundo cada vez mais conectado, onde a tecnologia redefine o conceito de proximidade, a figura do carregador de bêbados nos lembra da importância da presença humana e do cuidado mútuo, elementos que foram essenciais para o tecido social de uma metrópole como Istambul.
Em suma, os carregadores de bêbados são mais do que uma curiosidade cultural; eles são um lembrete vivo de que, em uma cidade tão vasta e complexa como Istambul, havia espaço para todos, até mesmo para aqueles que, ocasionalmente, precisavam de uma mão amiga para voltar para casa. Embora a prática tenha se tornado coisa do passado, sua memória continua a enriquecer o patrimônio cultural da cidade.