A ditadura das cores. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

A história da humanidade nos mostra que, as cores e os símbolos são elementos essenciais no processo de comunicação. A águia e o vermelho foram marcas inconfundíveis do Império Romano. Todas as tribos, nas mais variadas culturas, tinham cores e símbolos como seus cartões de visitas. Quando Deus construiu o Universo ficou claro que, as cores pertencem a todos. Com a palavra, a natureza.

Um belo dia, um idiota sentenciou do alto da montanha: “Azul é com de menino e rosa é cor de menina!”. Bradou com tanta autoridade que parecia Moises anunciando os 10 Mandamentos. Estava formada a confusão. Logo inventaram o pastoril com os cordões azul e encarnado.

Certo dia, do alto de sua sabedoria, o mestre Nelson Rodrigues escreveu: “Os idiotas vão tomar conta do mundo. Não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”. O dramaturgo tinha, como ninguém, conhecimento da vida como ela é. O exército dos idiotas cresceu de forma assustadora. Diria que o crescimento se deu na mesma velocidade da evolução da comunicação.

Quando a internet passou a ser de domínio público, todas as barreiras foram vencidas. E assim surgiu a tribuna mais liberal da história da comunicação.

“Estamos na era da imbecilidade!”. Disse perplexo o mestre, José Joaquim Pinto de Azevedo, ao testemunhar tantos absurdos com o domínio dos idiotas na comunicação.

“A internet é a tribuna dos imbecis!”, completou o grande e respeitado intelectual Gustavo Krause, um dos poucos pensadores pernambucanos da atualidade.

O exército dos idiotas, que Nelson Rodrigues tanto temia, passou a explorar as cores como elemento vital da comunicação. O prato já estava pronto, bastava adotá-lo como seu.

Certo dia, pós eleições presidenciais no Brasil, fui passar um final de semana no Interior. Na saída do Recife, início da BR 232, uma multidão se mantinha fiel a mais idiota das vigílias usando as cores verde e amarela para mostrar que aquele era o caminho da salvação da Pátria Amada. De repente minha mulher – Áurea Regina – observou que eu estava vestido com uma camisa vermelha. E passou a temer uma possível agressão por parte daquela massa de manobra.

Foi assim que fui apresentado a ditadura das cores.

O saudoso presidente da FPF, Carlos Alberto Oliveira, gostava de um happy hour no restaurante Spettus, na Av. Agamenon Magalhães. Quando paramos no sinal, um vendedor ambulante veio oferecer uma sombrinha multicolorida. O presidente olhou para o motorista – Batata – e exclamou: “Sombrinha bonita!”. No banco de trás, ao meu lado, o brincalhão Pedro de Paula – Pedrão – alertou: “Presta não presidente. Isso é uma bandeira gay”.

– A natureza é colorida Pedrão, respondeu o presidente liberando uma boa risada.

Nos últimos dias a cidade foi movimentada pelas convenções partidárias visando as eleições municipais no próximo mês de outubro. Como o País está dividido entre o cordão vermelho e o cordão verde/amarelo, os idiotas passaram a se comunicar pelas cores.

O vermelho é do partido tal; fulano, candidato de sete entre dez recifenses, veste branco; cicrano veste azul porque é a cor do partido de fulana; beltrano vestiu rosa numa sinalização incontestável de que é dupla face.

E o cordão dos idiotas cada vez aumenta mais.

Foi-se o tempo que a coisa parecia brincadeira de criança: “menino é azul e menina é rosa”.