A força da literatura na abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Por Flávio Chaves

Ao longo das apresentações, a história literária e cultural francesa foi destaque do momento de consagração

Por Flávio Chaves – Jornalista, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc

Na deslumbrante abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, os espectadores foram brindados com uma celebração que foi além do esporte, mergulhando na rica tradição literária francesa. A cerimônia não apenas exaltou os feitos atléticos, mas também destacou a biblioteca, os livros e os leitores como símbolos de uma cultura que valoriza tanto o corpo quanto a mente.

Os franceses, conhecidos por suas paixões ardentes e dramáticas que consomem a alma e o corpo, trouxeram essa intensidade para a abertura dos Jogos. A literatura, muitas vezes retratando paixões desenfreadas e conflitos internos, tornou-se um elemento central na narrativa do evento, refletindo uma nação que vive e respira suas histórias.

Durante a cerimônia, uma seleção de dez obras literárias foi destacada, representando a diversidade e a profundidade da literatura francesa. Entre os livros citados estavam:

  1. “Romanças Sem Palavras” de Paul Verlaine – Uma coletânea de poesias que explora a melancolia e a beleza dos sentimentos humanos.
  2. “Não se Brinca com o Amor” de Alfred de Musset – Uma peça teatral que aborda o amor e suas complicações com um toque de humor e tragédia.
  3. “Bel Ami” de Guy de Maupassant – Uma história sobre ambição e ascensão social, refletindo a busca pelo sucesso e reconhecimento.
  4. “Paixão Simples” de Annie Ernaux – Um relato íntimo e sincero sobre um amor avassalador, destacando a intensidade das emoções humanas.
  5. “Sexo e Mentiras” de Leïla Slimani – Uma exploração dos tabus e realidades da vida sexual no mundo árabe contemporâneo, trazendo à tona questões de liberdade e repressão.
  6. “O Diabo no Corpo” de Raymond Radiguet – Um romance sobre a paixão e a traição durante a Primeira Guerra Mundial, retratando a intensidade e a transgressão dos desejos juvenis.
  7. “Ligações Perigosas” de Choderlos de Laclos – Um clássico sobre manipulação e sedução, refletindo os jogos de poder e a crueldade emocional.
  8. “Os Amantes Magníficos” de Molière – Uma comédia que celebra o amor e a inteligência, destacando a astúcia e a perspicácia dos personagens.
  9. “O Triunfo do Amor” de Catherine Rihoit – Uma obra que explora as diversas facetas do amor, desde o romântico até o platônico, celebrando a vitória dos sentimentos.
  10. “Os Miseráveis” de Victor Hugo – Um épico que explora a luta pela justiça e a redenção, ecoando os temas de superação e perseverança presentes nos Jogos Olímpicos.

A França tem uma longa tradição de explorar temas de paixão e drama em sua literatura e cinema. Esta fascinação foi claramente evidenciada na cerimônia, onde a intensidade emocional dos personagens literários franceses foi paralelada com a paixão dos atletas. Este entrelaçamento de literatura e esporte criou uma atmosfera que cativou o público, destacando a importância da narrativa e da arte em eventos de grande escala.

A abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, com sua ênfase na literatura, não foi apenas uma celebração do atletismo, mas também uma homenagem ao poder das histórias e dos livros. Foi um lembrete de que, em um mundo onde o físico e o mental muitas vezes se entrelaçam, a força da palavra escrita permanece inabalável, inspirando e movendo gerações.

Em suma, a cerimônia foi um tributo não apenas aos atletas, mas também aos escritores, leitores e amantes da literatura, reafirmando a ideia de que a paixão pelo esporte e a paixão pelas histórias são, em essência, duas faces da mesma moeda: a busca incansável pelo que nos torna humanos.