PERNAS AMARRADAS. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

Por mais de duas décadas integrei a equipe de esportes do DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Durante este período tive a oportunidade de cobrir quatro edições de Copa do Mundo; várias edições de Copa América; Eliminatórias de Copa do Mundo, amistosos e torneios internacionais. A soma de conhecimentos, e a formação de um exército de amigos, representam o legado desta fantástica experiência que tinha a Seleção Brasileira como o grande motivo.

No início da manhã de hoje (03/07/2024), recebi uma ligação de um amigo mineiro que também esteve nas coberturas da Copa de 94 e do Torneio da França, em 97. Ele estava pilotando um programa de rádio e me pediu para definir a Seleção Brasileira que está disputando a Copa América com uma palavra.

AMARRADA!

Lhe respondi provocando uma risada geral dentre todos que faziam o programa com ele. Tentei explicar: “O time está preso. Não existe harmonia entre os setores. O conjunto não está bem treinado porque o grupo ainda não assimilou a filosofia de jogo do treinador”.

A primeira Copa do Mundo que me fez despertar para a Seleção Brasileira foi a de 1962, quando o Brasil conquistou o bicampeonato no Chile. Uma das lembranças que carrego comigo era dos encontros que aconteciam naturalmente para acompanhar a transmissão dos jogos pelo rádio.

A casa de um dos nossos vizinhos, na Av. Chateaubriand, em Carpina, seu Antônio Cysneiros, conhecido na cidade como Pirulito, era de uma alegria contagiante. Seu Pirulito era casado com Dona Coleta. Ele, alto e magro, com quase dois metros de altura. Ela, baixinha, tinha pouco mais de um metro e meio. Apesar da baixa estatura era impossível mensurar sua grandeza. Uma das figuras humanas mais elegantes que conheci na minha vida. Discreta e silenciosa até na sua risada mais gostosa.

Pois bem! Quando a Seleção Brasileira jogava a sala da casa de seu Pirulito ficava cheia. Vale lembrar que o casal teve dez filhos: sete homens e três mulheres. Evidente que todos os filhos não marcavam presença, mas os amigos e vizinhos animavam a fan fest.

Sempre discreta, Dona Coleta escolhia um cantinho da sala e pega uma tolha de prato. O rádio de seu Pirulito era branco e potente. A época, narradores, comentaristas e repórteres eram os olhos dos milhões de ouvintes que não saiam do pé do rádio. Assim como todos nós outros mortais, Dona Coleta não entendia bem o nome dos jogadores das seleções estrangeiras. Para facilitar o entendimento dos seus ouvintes, os narradores sempre ressaltavam os números das camisas.

Dentro do seu entendimento, de acordo com a leitura que ia fazendo no imaginário, Dona Coleta dava um nó na toalha, e dizia baixinho: “o camisa dez está amarrado“. E repetia o gesto durante toda a partida.  No final, quando o jogo terminava, a toalha estava cheia de nó. Ela havia amarrado o time adversário. E o Brasil foi bicampeão.

Acredito eu que, ontem à noite, em algum recôncavo colombiano, havia uma senhorinha “amarrando” as pernas dos jogadores da Seleção Brasileira.

Desde que terminou a Copa do Catar, a Seleção Brasileira já foi treinada por três professores, mas ainda não acertou o passo.

Tá tudo amarrado!