Equilíbrio e sofrimento. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

“O ser humano sofre mais na imaginação do que na realidade”. A frase do filósofo Sêneca, explica o comportamento do torcedor quando o seu time está envolvido numa competição marcada pelo equilíbrio, tal qual a edição em curso da Série B do Campeonato Brasileiro, onde as equipes estão empacotadas, e qualquer acidente de percurso pode incorrer numa mudança de cenário.

Tomando por base o Sport, o rubro-negro pernambucano iniciou a competição com uma marcha invicta, brigou pela condição de líder, mas logo em seguida amargou três derrotas seguidas, caindo para a sétima posição. A retomada do crescimento se deu com duas vitórias consecutivas, resultados que lhes recolocaram no cobiçado G4. Como o time da Ilha do Retiro tem um jogo a menos, caso contabilize mais três pontos no confronto com o CRB, os bravos guerreiros da Nova Roma voltam a brigar pela liderança.

O equilíbrio de forças observado nas dez primeiras rodadas da Série B, onde 12 equipes aparecem com chances reais de acesso, tem deixado torcedores de diversos clubes a beira de um ataque de nervos. É o sofrimento no pressuposto, explicado pelo sábio Sêneca há milênios de anos. O torcedor se tortura imaginando que o pior venha a acontecer.

Apenas três pontos separam o atual líder da competição, o América/MG (21 pontos), do quinto colocado, o Operário (18 pontos), na tabela de classificação. A Chapecoense (14 pontos), décimo-segundo time colocado na tabela, está a quatro pontos do Sport (18 pontos), terceiro colocado. O Santos, que pela primeira na história, disputa uma Segunda Divisão, apresenta um aproveitamento de 50%, aquém do que se esperava. O clube que ganhou fama mundial por conta do Rei Pelé, somou cinco vitórias e cinco derrotas nas dez primeiras rodadas do campeonato.

O torcedor dar asas a imaginação e sofre com o que possa vir a acontecer. Os analistas de plantão discutem o sexo dos anjos nas enxurradas de mesas redondas e podcast. A nova ordem abriu espaço para análises no pressuposto. A análise dos fatos, regra a ser seguida no bom jornalismo, virou coisa do passado. A teoria do lendário Sêneca ganha força no futebol das bets, das chuteiras e cabeleiras coloridas, onde vale mais adivinhar do que aguardar a verdade dos fatos.

Fazer previsão de acesso a vinte e oito rodadas do final do campeonato é uma insanidade diante do grande equilíbrio de forças. Mas o puxa e encolhe faz parte do futebol. É o molho da gréa, como dizem os torcedores. Sendo assim, nada mais emocionante do que o sofrimento da imaginação.