Por que será que tem sempre algum finório tentando intimidar a imprensa? Por José Nivaldo Junior

Por José Nivaldo Junior*

A liberdade de imprensa é a mãe de todas as liberdades. É garantida pela Constituição brasileira e pela legislação dos países democráticos e com características sociais, políticas, econômicas e culturais avançadas. Reprimir, tentar calar ou intimidar a imprensa é coisa de vagabundos mentais, arrogantes desprezíveis, prepotentes em geral. Bandidos da nova era. Pessoas que podem até dormir sobre bilhões. Mas são medíocres, pequenos, conspiradores contra o Estado de Direito e as relações de convivência ditas civilizadas. Enfim, uns bostelas. (Embora pareça, a palavra bostela não é palavrão. É metáfora dicionarizada e literalizada).

Justiça no bolso? Sei não.

O sujeito, montado numa suposta fortuna, ninguém sabe ao certo, é acusado de cometer um crime. Qualquer crime. Apenas como exercício, digamos, um delito contemporâneo. Desses que no século passado eram considerados conduta normal. Discriminação racial ou sexual, por exemplo. Ou um delito ambiental. Crime moderno, de degradação das preciosas reservas florestais remanescentes. Nesse caso, se for um desses poderosos de colarinho branco, que do alto de sua arrogância pensam e dizem que “mandam na justiça de Pernambuco”, consideram que estão acima e ao largo de qualquer punição. Não admitem sequer uma veraz notícia. Querem punir as verdades que eles mesmos confessam. E se jactam, nos convescotes regados a champagne Cristal, uisque Royal Salute e vinhos de 3 mil euros a garrafa que mandam na Lei. Eu sinceramente, não acredito. E, em algum caso hipotético, não confiaria em um encaminhamento camarada por parte das autoridades ambientais. E muito menos da Justiça. Aqui em baixo, ainda predomina, nas entidades fiscalizadoras e no Judiciário, o reino da dignidade. Mas há quem pense que todo mundo tem um preço que cabe no seu próprio bolso. E sempre esteja disposto a pagar para ver.

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Kit intimidação

É uma canalhice recorrente. Funciona assim: o poderoso, quando tem conduta ilícita noticiada, processa quem publicou. Pede cadeia para o jornalista, palavra na qual costuma colocar aspas, medindo os outros com sua própria estatura moral. Não esclarece nada, até porque não tem o que esclarecer. Geralmente, é réu confesso por descumprir regras estabelecidas. É tão convicto do seu poder faraônico que acha regras e leis coisas para a malta ignara. Não para ele, que paira acima dessas quinquilharias.

Atacar sempre

Então, ao invés de esclarecer, o predador ataca e ameaça. Pede quantias indenizatórias estrambóticas, fora mesmo da melhor conduta jurídica. Exigem indenizacões por uma honra que não têm. O objetivo não é receber. É intimidar. Métodos cangaceiros. Incorporados das antigas quadrilhas dos interiores da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas, de Sergipe. Técnicas que se pensava arquivadas desde o cerco de Angicos. Ressuscitadas em plena era digital para cercear a liberdade de imprensa. Tentar intimidar toda uma categoria ativa e combativa. E, salvo as exceções de praxe, não achamos graça nesse triste espetáculo mambembe. Uma grande maioria dos profissionais de imprensa ganha o pão com trabalho duro e talento. E têm no nome a zelar. Que é o seu patrimônio, o seu maior investimento.

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Coisa ultrapassada

Esse kit intimidação, usado sustematicamente contra o jornalismo independente e, por isso, incômodo, está desmoralizado. Só funciona onde a justiça é corrupta ou subserviente. Não é o caso de Pernambuco. Logo, dificilmente aqui vai funcionar. Vade retro.

Mensagem

Ameaçou a liberdade, ameaçou a democracia. Fez chantagem explícita, dobrou o crime. Denunciou, tem que provar. Insultou, ou prova ou vai ter que engolir. E pagar, se ainda tiver bens penhoráveis no fim da linha.
Repetindo: direitos civis, conquistados com sangue, suor, lágrimas, torturas e mortes, não são objeto de brinquedo para ricos mimados. Principalmente filhotes da ditadura, que ascenderam, montaram bases de fortunas à sombra do arbítrio.
Não incorporou as lições da História? Deve frequentar péssima universidade.
Melhor ler Máximo Gorki, para aprender.

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*José Nivaldo Junior é jornalista desde os 16 anos, quando começou no Diário de Pernambuco. Foi diretor do Jornal Região, fechado pela ditadura e editor da revista Confidencial Econômico. Lutou contra o regime militar. É publicitário desde 1975, quando iniciou na Alcântara. Foi sócio diretor das agências MMS e Makplan. Profissional de marketing político desde 1978, com três campanhas presidenciais no currículo. É bacharel em Direito e mestre em História. Foi durante 20 anos professor da graduação e mestrado na UFPE. Seu livro ‘Maquiavel, o Poder’ foi Best Seller aclamado em vários países. Tem textos traduzidos em mais de 20 línguas, entre as quais inglês, espanhol, romeno, árabe, húngaro, tcheco, japonês, mandarim. É autor de três romances consagrados pela crítica, dezenas de ensaios, centenas de artigos publicados no Brasil e no Exterior. Ocupa a cadeira 8 da Academia Pernambucana de Letras. Atualmente é diretor-geral do Jornal O Poder e único responsavel por materias não assinadas. Gosta de provérbios populares e cita o ex-governador Joaquim Francisco: “Quem tem medo de cara feia, não come cabeça de bode”.

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