Os dois já foram aliados políticos e fizeram campanhas juntos em eleições anteriores
O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) chamou o ministro da Educação, Camilo Santana, de “decepção” e “maior traidor da história”, ao comentar a autorização para a abertura de novos cursos de medicina privados no país. Os dois já foram aliados políticos e fizeram campanhas juntos em eleições anteriores. Procurado, o ministro preferiu não comentar o caso.
A declaração foi feita na última sexta-feira (17), na gravação do programa Brasil Desvendado, no qual Ciro é o entrevistado. Ele falou da abertura dos novos cursos privados emendando uma crítica ao Fundo de Financiamento Estudantil, o Fies.
– O atual ministro da educação, que é um cearense aqui ilustre – que, para mim, é a maior decepção, o maior traidor da história.. Mas isso é um assunto paroquial -, autorizou a abertura de 95 novos cursos de medicina, todos privados (…). Esse é o socialismo do PT – disse Ciro Gomes.
De acordo com Ciro, a autorização para criar cursos em universidades particulares seria uma forma de injetar dinheiro público na iniciativa privada, por intermédio do programa de financiamento estudantil.
– Vão tirar dinheiro do Tesouro, colocar no bolso desses empresários, que é o tal do Fies, a garotada não vai pagar e eles vão dispensar de novo, como agora – disse o ex-governador.
Ele faz referência à lei aprovada no último dia 1º pelo governo federal para renegociação das dívidas feitas por intermédio do sistema de financiamento estudantil. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), hoje há 1,2 milhão de pessoas inadimplentes que, juntas, devem R$ 54 bilhões aos cofres públicos.
A normativa permite a isenção dos encargos (juros e multa) para quem possui dívidas pelo programa e, para os estudantes inscritos no CadÚnico ou no Auxílio Emergencial de 2021, pode haver o desconto de até 99% sobre o valor total da dívida para pagamento à vista.
Ciro é um crítico frequente do Partido dos Trabalhadores. Santana, hoje ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e conterrâneo do ex-presidenciável, foi governador do Ceará por dois mandatos seguidos, de 2015 a 2022. No último pleito, elegeu-se senador pelo estado, ocupando uma cadeira na mesma casa que Cid Gomes (PDT), irmão de Ciro.
Há uma crise interna na sigla envolvendo os dois irmãos e o comando do PDT no Ceará. Ciro está mais próximo de André Figueiredo, deputado federal pelo estado, pré-candidato a 2024 e membro de uma ala do partido que se opõe ao PT.
O chefe do Executivo da capital cearense rivaliza com Cid, que defende alianças mais amplas e chegou a ameaçar sair do partido após uma reunião do diretório em outubro passado. O senador foi à Justiça e, no último dia 13, assumiu o comando do diretório estadual de volta com a chancela do juiz Cid Peixoto do Amaral Neto, da 3ª Vara Cível de Fortaleza.
O PDT havia aprovado uma intervenção da executiva nacional no diretório do Ceará, afastando Cid das funções.
*AE