Por CLAUDEMIR GOMES
A emoção leva o ser humano a perda da percepção. Isto é muito comum no futebol, e serve para explicar alguns insucessos. Se enquadra perfeitamente no atual momento do Náutico. A queda do técnico, Fernando Marchiori, após a vexatória derrota – 4×2 – de virada, para o Paysandu, foi o atestado de uma morte anunciada, fato que estava tão iminente, dada a ocorrência dos fatos durante a semana, mas que os dirigentes alvirrubros não foram capazes de perceber.
Rei morto, rei posto!
A agilidade que faltou para apagar o incêndio, que deixou o Timbu chamuscado, no alçapão da Curuzu, sobrou no anúncio do novo treinador: Bruno Pivetti. O novo comandado teve passagens pelo Guarani e pela Chapecoense. Nada do que ele sabe, lhe será tão útil, nas próximas duas partidas do time da Rosa e Silva, quanto um punhado de sorte.
Em todas as explanações que assisti sobre case de sucesso no futebol, a frase – no futebol não existe sorte, e sim, trabalho e competência – foi ressaltada como um mantra. Contudo, na implantação de qualquer metodologia de trabalho, o fator tempo será imprescindível para se obter sucesso. Afinal, sabemos que, sucesso só vem antes de trabalho no dicionário. O trabalho a ser implantado por Pivetti pode vir a dar frutos no futuro. O presente pertence a sorte.
O saudoso, Napoleão Macedo, ex-diretor de futebol do Santa Cruz, costuma dizer que: “quando o time está para ser campeão, se sente o cheiro no vestuário!” Traduzindo: isto é a percepção de que as coisas estão encaixadas, que deu liga. Certa vez, perguntei a ele qual era o cheiro da derrota. Ele deu um grande gole na sua gigantesca dose de whisky, abriu um largo sorriso, e voltou a falar dos inúmeros, e agradáveis, momentos vivenciados por ele numa época em que o time do Arruda era o Terror do Nordeste.
Quando o futebol era menos profissional, e exigia uma presença mais efetiva dos dirigentes nos treinamentos, acompanhando, in loco, o trabalho de campo, a percepção dos gestores era mais aguçada. Os repórteres que cobriam o dia a dia dos clubes, tinham livre trânsito em todas as dependências, liberdade que lhes proporcionava a descoberta de obstruções que poderiam determinar o insucesso do trabalho.
Nos dias de hoje, a comunicação alcançou uma velocidade inimaginável, mas, em contrapartida, houve um bloqueio nas relações humanas devido a subtração dos espaços que eram concedidos aos profissionais das rádios, jornais e televisões. As equipes esportivas estão a funcionar como “assessorias” uma vez que, recebem materiais prontos das equipes de comunicação dos clubes.
A percepção aos fatos exige a presença física. A leitura do comportamento gestual, do grupo, e dos jogadores individualmente, só pode ser feita presencialmente. Eis a razão de tantos treinos fechados, sem a presença dos profissionais da imprensa esportiva.
O Cel. Adelson Wanderley, com passagem nos três grandes clubes pernambucanos, era um craque no trato com elencos de jogadores e comissões técnicas. Sabia logo quando o mexido não ia dar caldo. Com uma discrição que lhe era peculiar, o máximo que eu conseguia arrancar dele era uma metáfora: “Isso está mais para angu de caroço”. Um mestre da percepção.
O repórter, Alfredo Augusto Martinelli, que brilhou nos maiores prefixos do rádio esportivo pernambucano, sempre anunciava suas participações nas resenhas esportivas, com o brado: “Eis-me aqui!”.
Era a forma de dizer para os seus ouvintes que estava coladinho no fato.
Este tinha uma excelente percepção.